Maior serial killer da Suécia é inocentado e ficará livre após 23 anos

  • Por Agencia EFE
  • 20/01/2014 06h26

Anxo Lamela.

Copenhague, 20 jan (EFE).- Considerado o pior assassino em série da Suécia, Sture Bergwall, está a poucas semanas de ficar em liberdade, após 23 anos recluso em uma clínica mental e depois de ter sido absolvido de oito crimes que era acusado.

Após um escândalo judicial sem precedentes na história recente sueca, a clínica psiquiátrica de Säter, no norte de Estocolmo e onde Bergwall estava desde 1991, pediu esta semana sua mudança para regime aberto.

Quando, em meados do ano passado, foi concluído o último caso para revisar, o governo sueco criou uma comissão para estudar o papel do sistema judiciário e da medicina legal na história deste homem, um doente mental que confessou mais de 30 crimes enquanto era submetido a tratamento e sob efeitos de drogas.

Sua confissão foi a única prova usada para condená-lo entre 1994 e 2001 por oito assassinatos.

Anos depois, após rejeitar o tratamento e superada a dependência de drogas, Bergwall se desdisse, e iniciou um processo que está a ponto de terminar com sua libertação.

Seus problemas com a justiça começaram em 1970, quando foi condenado a tratamento psiquiátrico em Säter por abusar de quatro jovens e tentar estrangular uma pessoa no hospital onde trabalhava.

Diagnosticado com alteração antissocial da personalidade, Bergwall, viciado em drogas desde a adolescência, ficou livre em 1977.

Uma frustrada tentativa de roubo com sequestro o levou de novo à clínica psiquiátrica em 1991.

Dois anos depois, quando faltavam poucos meses para sua saída, confessou ter matado Johan Asplund, uma criança que tinha desaparecido 13 anos antes.

Foi a primeira de uma longa lista de confissões de crimes cometidos entre 1964 e 1993, que Bergwall relatou enquanto a psicóloga Birgitta Stahle usava tratamento sugestivo e prescrevia grandes quantidades de fármacos.

Tanto Stahle como o especialista em memória que colaborou com a polícia no caso, Sven Ake Christianson, faziam parte do círculo da psicanalista Margit Norell, com quem consultavam tudo referente ao caso.

Guiado pela dependência, pelo afã de protagonismo e instigado pelos psicólogos, Bergwall confessou anos depois que inventou o relato de sua vida, com abusos sexuais de seus pais na infância e um irmão assassinado por eles, detalhes que nenhum outro parente reconheceu.

Ele atribuiu a si várias personalidades e adornou com aspectos macabros as informações sobre os crimes que tinha visto na imprensa.

Segundo os analistas que o tratavam e cujo testemunho foi fundamental para o caso, o que proporcionou dados errôneos para reconstruir os assassinatos se devia a lembranças muito desagradáveis.

A história deu uma reviravolta quando em 2008, em um documentário da televisão pública, Bergwall reconheceu que tudo era uma invenção e que no tratamento não tinha estado limpo das drogas “nem por um só dia”.

Entre 2010 e 2013 foram reabertos todos os casos e Bergwall foi inocentado diante da fraqueza da acusação.

O magistrado do Tribunal Supremo Göran Lambertz, que em sua época como promotor superior em 2006 não encontrou erros no dossiê Bergwall, foi transferido há um mês para o Conselho de Leis, um órgão consultivo.

Embora estivesse previsto, a imprensa sueca afirma que sua mudança foi acelerada por causa de sua inflamada defesa pública do processo.

Após se retratar e mandar uma carta pedindo perdão, Bergwall se reconciliou com seus irmãos, que o apoiaram pessoalmente na revisão do caso.

A última foi em outubro, quando o tribunal administrativo de Falun, que revisa a cada seis meses se ele deve continuar internado, pediu um novo estudo mental, o primeiro desde 1991.

O exame concluiu que Bergwall tem um transtorno psíquico e recomendou a mudança para regime aberto.

“Estive trancado atrás dos muros de Säter por 23 anos. É muito tempo na vida de uma pessoa e agora finalmente serei livre”, disse recentemente Bergwall, de 63 anos, que vislumbra o fim de sua história. EFE

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