Mais de dois terços das terras estatais do Chaco pertencem a especuladores
Assunção, 6 abr (EFE).- Mais de dois terços das terras que o Estado paraguaio possui na região do Chaco foram arrendadas por particulares que as destinaram à especulação ao invés de investir nelas, como estabelece a lei, informaram nesta segunda-feira fontes oficiais, ao anunciar a revogação dessas adjudicações.
O Instituto de Desenvolvimento Rural e da Terra (Indert), instituição encarregada da gestão das terras fiscais destinadas às famílias camponesas mais necessitadas, assegurou que iniciará um processo de revogação dessas adjudicações de terras para que o Estado volte a tomar o controle sobre elas.
Segundo Justo Cárdenas, o titular do instituto, que depende do Poder Executivo, o governo recuperará as terras cujos adjudicatários tenham descumprido o contrato que lhes obrigava a investir e trabalhar nelas.
O Chaco paraguaio “representa o maior foco de especulação e corrupção dentro do Indert”, reconheceu Cárdenas.
“Milhares de hectares poderiam estar nessas condições: 70% das terras fiscais adquiridas no Chaco foram alvo da especulação imobiliária, que é altamente rentável”, comentou o funcionário através de um comunicado.
Cárdenas explicou que há dez anos um hectare de terra no Chaco custava US$ 6,25, enquanto agora alcança US$ 400 e isso sem contar com nenhum tipo de infraestrutura nem investimentos para a criação de gado, o negócio mais comum na região.
“O aumento dos preços das terras nos últimos dez anos é impensável. Ninguém poderia ter calculado que a diferença de preços seria tão grande como é hoje em dia”, acrescentou.
Os adjudicatários que não tenham realizado durante estes anos um plano de investimentos perderão os direitos sobre essas terras, segundo Cárdenas.
Por isso, assegurou que o governo do presidente Horacio Cartes decidiu que não voltará a subsidiar terras no Chaco, mas as venderá a preço de mercado.
A origem das atuais irregularidades nos títulos de terra no Chaco paraguaio remonta à guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), quando o Paraguai foi devastado pelas tropas de Brasil, Argentina e Uruguai.
Passados 20 anos desde essa derrota, o Estado paraguaio vendeu na bolsa de valores de Londres dois terços do Chaco para financiar a dívida imposta após o conflito bélico.
Além disso, durante a ditadura militar de Alfredo Stroessner (1954-1989) as terras que deveriam ter sido destinadas a famílias camponesas foram malversadas e entregues a militares, policiais e à família do próprio ditador, segundo a associação Mesa da Memória Histórica.
A ditadura entregou inclusive uma propriedade de 10.000 hectares no Chaco paraguaio ao ditador nicaraguense Anastasio Somoza, refugiado no Paraguai em 1979, onde morreu um ano mais tarde vítima de um atentado. EFE
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.