Manifestantes não querem sair da Av. Paulista: “nova capital do Brasil”

  • Por Thiago Navarro/ Jovem Pan
  • 17/03/2016 08h31
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Thiago Navarro/ Jovem Pan Grupo de dezenas de pessoasmantém protesto na Avenida Paulista

Dezenas de pessoas mantêm a paralisação da Avenida Paulista na altura da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) na manhã desta quinta-feira (16). O protesto contra o governo Dilma e a nomeação de Lula para a Casa Civil começou na noite de quarta e chegou a reunir 5 mil pessoas de acordo com a polícia militar.

Um dos que passaram a madrugada na via foi o estudante de Direito Fábio Kletlinger, de 24 anos. Ele, que diz ter chegado às 20h30 do dia anterior e não arredou pé, torce para que mais pessoas se juntem ao ato e não tem previsão para ir embora. Fábio diz que “está segurando o pessoal” para “não perder essas duas vias”. Entre os gritos de apoio ao juiz Sérgio Moro e repúdio a Lula, eles conclamam: “vem pra Paulista!”, sob olhares curiosos de quem desembarca da estação Trianon do metrô.

O estudante destaca a espontaneidade da manifestação. “Não teve movimento, não teve partido, as pessoas viram as notícias e vieram”. Fábio acompanhava a divulgação de conversas telefônicas entre a presidente Dilma e o ex-presidente Lula na noite de ontem, notou pela TV que pessoas já se mobilizavam em Brasília e decidiu ver o que acontecia na avenida que centra as manifestações do tipo em São Paulo. As pessoas começavam a se reunir no mesmo ponto onde estão agora – em frente à Fiesp, cuja fachada do prédio foi iluminada à noite de verde amarelo e do dizer “Renúncia já”.

Já Paulo, engenheiro desempregado que não quis identificar o sobrenome, diz que voltou para casa por volta da meia-noite e retornou à Av. Paulista “às 4h30 da manhã”. Mas nem conseguiu dormir. “Assisti aos jornais e voltei pra cá”. O manifestante de meia-idade relaciona sua falta de emprego ao sentimento de indignação política. “Davam prioridade para engenheiro ladrão”, comenta sobre o último ofício, irritado com a corrupção nos setores de base da sociedade.

Tanto Fábio quanto Paulo afirmam que não há na rua líderes dos movimentos que costumam convocar protestos do tipo, como o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua. Fábio critica a ausência, enquanto Paulo a elogia e entende que isso mais a legitima, por ser algo voluntário da população que decidiu trocar o sono pela demonstração pública de descontentamento.

A aposentada Lorraine Margarete, de 62 anos, por sua vez, chegou apenas na manhã desta quinta à Av. Paulista. Ela esteve no ato de domingo (13). Questionada sobre sua motivação de vestir-se de verde e ir tão cedo a um protesto, Lorraine afirma que desde 1954, quando nasceu e “viu toda crise” pela qual o Brasil já passou, as coisas erradas dos bastidores da política não são tão manifestos. “Está tudo tão às claras pela primeira vez”.

Ao mesmo tempo em que a aposentada se diz cética a mudanças imediatas, Lorraine acredita no poder transformador da nova geração.

Às 7h20, três quarteirões da Av. Paulista, entre a Alameda Campinas e a Alameda Casa Branca permaneciam fechados nos dois sentidos por agentes da PM e da CET que acompanham o ato.

Informalmente, entre os manifestantes, ouvia-se que a “polícia do Alckmin” não teria “coragem” de tirá-los dali depois de o governador de São Paulo ter sido vaiado, junto com outros políticos, na grande manifestação do último domingo (13).

A intenção é de fazer o protesto crescer e não perder o sentimento de indignação política mais aflorado desde quarta. O engenheiro desempregado Paulo diz que a Av. Paulista hoje é a outra “capital do Brasil”, junto com o próprio coração do Distrito Federal.

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