Marginalizada, península do Sinai é o berço do jihadismo egípcio

  • Por Agencia EFE
  • 24/05/2015 06h44
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Mohammed Siali.

Al Arish (Egito), 24 mai (EFE).- A marginalização sofrida durante anos pela península egípcia do Sinai e sua natureza de fronteira são os dois principais fatores que favorecem o desenvolvimento do terrorismo nesta região, um dos maiores desafios do regime egípcio.

“As oportunidades de trabalho são poucas, o desemprego é alto, aqui não há investimentos e nem fábricas. O desemprego é um problema mundial, e com investimentos terminaria este extremismo”, reconheceu à Agência Efe em Al Arish, capital do Norte do Sinai, o governador da província, o general Abdul Fatah Harhur.

Esta semi-desértica região egípcia, na fronteira com a Faixa de Gaza e Israel, país que a manteve ocupada entre 1967 e 1982, foi historicamente marginalizada pelos diferentes governos locais.

Em um centro cultural da cidade, Abdel Qadir Mbarek, xeque da poderosa tribo dos Suarka, contou à Efe que as autoridades devem tomar medidas para fechar a “lacuna da desconfiança” com a população local, à qual também contribuíram “algumas violações (cometidas) pelas forças de segurança”, segundo o líder tribal.

Mbarek, que ressalta que nenhuma tribo está disposta a apoiar os terroristas, acrescenta que o governo deveria libertar os detidos que não estão envolvidos em atos terroristas e indenizar tanto os parentes das pessoas assassinadas pelos jihadistas, como as vítimas dos erros cometidos pelas autoridades.

Walid al Lizi, professor de música, explicou que os habitantes do Sinai estão dispostos a “sacrificar tudo para conseguir a estabilidade do país”.

No entanto, Lizi considerou que o Executivo deveria proporcionar serviços médicos, educativos e de segurança aos beduínos que vivem nas zonas remotas da região.

Esta marginalização ancorada no tempo e sua localização estratégica entre Ásia e África fez com que muitos de seus habitantes buscassem alternativas no tráfico ilegal, que durante muitos anos foi semi-tolerado desde o Cairo.

Os jihadistas “trabalhavam no contrabando e no tráfico de drogas através das fronteiras, depois foram condenados à prisão e ali se tornaram extremistas, depois terroristas”, explicou à Efe o governador.

Mbarek, por sua vez, insistiu que o suposto líder do grupo terrorista Wilayat Sina, Shadi al Maniai, foi “um dos grandes traficantes de pessoas procedentes da África”.

Wilayat Sina, antes conhecido como Ansar Beit al Maqdis, se aliou ao grupo extremista Estado Islâmico (EI) e reivindicou a maioria dos ataques contra as forças de segurança ocorridos no Sinai.

Segundo o xeque tribal, os jihadistas conseguiram os explosivos das minas antipessoal colocadas durante as guerras do passado século contra Israel e suas armas da Líbia. Além disso, ele argumentou que também há armamento que é enviado clandestinamente através do Sinai ao movimento palestino Hamas, que governa a Faixa de Gaza. Segundo Mbarek, parte dessas armas fica na península.

Com a explosão da revolução de janeiro de 2011 no Egito, a tensão no Sinai abriu passagem a um aumento dos ataques contra as forças de segurança, que dobraram de tamanho após o golpe militar que derrubou o presidente islamita, Mohammed Mursi, em julho de 2013.

Mas foi apenas no final de outubro do ano passado, depois da morte de mais de 30 soldados em um atentado, que o presidente Abdul Fatah al Sisi lançou uma dura campanha de segurança que incluiu o toque de recolher e a destruição de centenas de casas na população fronteiriça de Rafah.

Desde então, centenas de supostos jihadistas e de membros das forças de segurança perderam a vida em enfrentamentos, batidas e atentados.

Para Harhur, o ponto forte dos terroristas, que seguiram lançando ataques intermitentes apesar das medidas de segurança impostas pelas autoridades, está no fato de que preparam há muito tempo o “palco das operações militares”.

Harhur explicou que os extremistas contam, sobretudo, com uma rede de túneis e de refúgios sob o solo, escavados em distintas partes da província, que lhes permitem se movimentar e se esconder com grande facilidade.

Mas apesar dos devastadores números e da visível presença das forças de segurança em suas ruas, a vida diária em Al Arish, durante as horas diurnas, parece transcorrer de uma maneira fluente.

Um morador da cidade, de 24 anos de idade e que pediu anonimato declarou à Efe que esta aparente “normalidade” ocorre porque as pessoas sabem que o alvo dos ataques não é a população civil, mas os serviços de segurança e seus colaboradores. EFE

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