María Corina, a voz da oposição venezuelana que luta pela saída de Maduro
Paola Martínez Castro.
Caracas, 2 abr (EFE).- Após muitos anos dedicados à defesa dos direitos políticos dos venezuelanos em diversas trincheiras, a dirigente María Corina Machado se transformou em uma voz potente da oposição ao governo de Nicolás Maduro.
Seu ativismo suscita paixões em uma Venezuela com uma sociedade muito polarizada. Henrique Carpriles, que até o dia 12 de fevereiro era a figura mais visível da oposição dentro e fora da Venezuela, a descreve como uma “mulher valente que enfrenta a ditadura sem dobrar-se”.
Já o presidente Maduro tachou a dirigente opositora como “uma personagem do fascismo” que se transformou em “funcionária de um governo estrangeiro (…) para propor que intervenham na Venezuela”, motivo pelo qual já é investigada por traição à pátria.
Segundo o líder, María Corina, Capriles e Leopoldo López, detido desde o dia 18 de fevereiro, formam a “trilogia do mal”, designada supostamente pelos Estados Unidos para formar uma “junta de transição” após sua eventual derrocada.
Além dos adjetivos que possam dar-lhe simpatizantes e críticos, esta engenheira industrial e mãe de três filhos que acaba de perder seu cargo de deputada, exerceu um papel-chave desde 18 de fevereiro, quando López foi detido no meio de um grande protesto pacífico.
López, dirigente do partido opositor Vontade Popular, foi responsabilizado pessoalmente por Maduro pelos enfrentamentos ao término de uma manifestação que no dia 12 de fevereiro acabou com três mortos – o saldo total atualmente é de 39 mortes nos protestos.
O político, que permanece em uma prisão militar à espera que sua situação jurídica seja definida no próximo sábado, convocou a população a manifestar-se na rua de maneira pacífica até conseguir a queda de Maduro.
Desde então, María Corina, que também foi acusada pelo governante de instigar os protestos, tomou a batuta e continuou os chamados à população para tomar as ruas e conseguir a transição à democracia do que classifica como a “ditadura” de Maduro.
Além disso, saiu da Venezuela para denunciar a situação de seu país e pedir à Organização dos Estados Americanos (OEA) um papel “mais ativo” na crise venezuelana no momento em que Capriles titubeava perante os protestos populares, que a princípio qualificou como um “grande erro”.
Relegado a um segundo plano, Capriles, que perdeu por pouco as eleições de 2013 contra Maduro, mudou de postura e pediu a continuidade dos protestos contra o “governo moribundo”.
Nesta semana pediu apoio para María Corina, que foi destituída de seu cargo de deputada no último dia 25 de março pela maioria governista da Assembleia Nacional por aceitar a representação alternativa do Panamá, uma decisão que foi avalizada pelo máximo tribunal venezuelano.
A dirigente opositora liderou na terça-feira uma concentração em uma praça de Caracas e se dirigiu até o recinto legislativo para reassumir sua cadeira, mas uma equipe de segurança a impediu com o argumento que “civis” não podiam ingressar ao Parlamento.
María Corina Machado, de 46 anos, assegura que é “mais deputada que nunca” e que a decisão de retirá-la de sua cadeira é ilegal e demonstra o caráter autoritário do governo, assim como a “inexistência da separação de poderes” no país.
“Não vão nos calar, pelo contrário; com seus atropelos potencializam nossas vozes”, escreveu no Twitter hoje no Brasil, onde chegou para falar no Senado sobre a crise de seu país.
Em sua página eletrônica, María Corina é descrita como uma “aguerrida dirigente comprometida com os valores da democracia” e “uma das vozes mais enérgicas do Parlamento venezuelano”.
Nessa casa, a qual chegou com o maior número de votos que qualquer outro representante no pleito de 2010, acusou o então presidente Hugo Chávez, em rede nacional, de “roubar” os empresários e comerciantes com suas expropriações.
Dias depois das eleições presidenciais de abril de 2013, María Corina foi agredida em plena sessão parlamentar junto com outros deputados opositores, que denunciavam um golpe do chavismo ao Legislativo ao serem impedidos de falar por não reconhecer a legitimidade de Maduro.
Mas a luta da dirigente começou muitos anos atrás com o impulso a várias organizações, entre elas a Súmate, que promoveu o referendo que em 2004 tentou tirar Chávez do poder, o que lhe valeu uma proibição de saída do país por três anos e acusações por conspiração e traição à pátria.
No dia 12 de fevereiro de 2012 participou como candidata independente nas eleições primárias da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), nas quais ficou relegada a um terceiro lugar, atrás dos governadores Henrique Capriles e Pablo Pérez.
Nessa campanha presidencial participou como coordenadora internacional da aliança opositora e impulsionou um trabalho de sensibilização perante organismos internacionais e países da região, convencida que o apoio do exterior é fundamental em sua luta e que é a voz dos venezuelanos dentro e fora do país. EFE
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