Médicos sem Fronteiras denuncia “fracasso global” em conter surto de ebola
Nairóbi, 23 mar (EFE).- A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou nesta segunda-feira o “fracasso global” que impediu conter o surto de ebola, surgido há um ano em Guiné, para evitar que se transformasse em uma epidemia que já matou 10 mil pessoas e ainda não foi derrotada.
“Devemos aprender das lições deste surto, desde a fraqueza dos sistemas de saúde nos países em desenvolvimento à paralisia e a lentidão da ajuda internacional”, denunciou a MSF em um relatório divulgado hoje.
“Levado ao limite e além” é o título do documento, muito crítico com a gestão da epidemia de ebola na África Ocidental no último ano.
Em março do ano passado começaram a aparecer os alertas antecipados de casos de ebola na Guiné, que foram inicialmente negados pelos países atingidos e recebidos com indiferença pela comunidade internacional.
“A epidemia de ebola foi um evento excepcional que expôs como ineficazes e lentos são os sistemas de saúde e de assistência na hora de responder a situações de emergência”, lamentou a presidente internacional da MSF, Joanne Liu.
A organização destacou nos efeitos da “coalizão mundial da inação” durante vários meses, nos quais o vírus se propagou violentamente e sem controle, o que levou a MSF a liderar o pedido de mobilização de recursos médicos civis e militares internacionais.
No final de agosto, o centro ELWA3 da MSF em Monróvia estava inundado de pacientes, ao ponto de a equipe se ver obrigado a rejeitar doentes que chegavam até ali por serem incapazes de atendê-los, mesmo com pleno conhecimento que retornariam a suas comunidades e infectariam outras pessoas.
“O surto de ebola foi frequentemente descrito como uma tempestade perfeita: uma epidemia além da fronteira em países com sistemas de saúde pública frágeis que nunca antes tinham conhecido o ebola”, explicou o diretor-geral da MSF, Christopher Stokes.
“Para que o surto de ebola se transformasse em uma espiral fora de controle foi necessário que muitas instituições falhassem. E falharam, com consequências trágicas e evitáveis”, segundo Stokes.
Diante de uma epidemia excepcionalmente agressiva e uma resposta internacional fraca, as equipes da MSF se centraram na atenção ao paciente, à vigilância, à segurança nos enterros e a divulgação dos perigos da doença.
“Nos momentos mais virulentos do surto, as equipes da MSF foram incapazes de admitir mais pacientes ou proporcionar o melhor atendimento possível”, lamentou Liu.
“Isto foi muito doloroso para uma organização de voluntários médicos, o que produziu tensões no interior da MSF”, admitiu.
O principal desafio para derrotar a epidemia e declarar o final do surto é identificar todas as pessoas que tenham entrado em contato com um doente.
“Não há espaço para erros ou complacência; o número de casos por semana é ainda maior do que em qualquer surto anterior, e os casos em geral não diminuíram significativamente desde o fim de janeiro”, advertiu a MSF no relatório.
Na Guiné o número de pacientes voltou a aumentar, e em Serra Leoa foram registraram contágios de pessoas que não entraram em contato com doentes.
A Libéria, em contagem regressiva para os zero casos, continua em risco por causa de seus vizinhos.
“É urgente que o acesso aos serviços de saúde se restabeleça, em um primeiro passo para reconstrução dos sistemas de saúde na região”, destacou a MSF, que também aposta em uma estratégia global que fomente a pesquisa e o desenvolvimento de vacinas, tratamentos e ferramentas de diagnóstico. EFE
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