Medo do ebola e do EI alimentam campanha republicana nas eleições nos EUA
Lucía Leal.
Washington, 31 out (EFE).- O ebola e o Estado Islâmico (EI), assuntos que a rigor estão fora do campo de batalha de eleições legislativas, se transformaram em um trunfo para muitas campanhas republicanas nos Estados Unidos, que aproveitam a incerteza e o medo para questionar a competência do governo e dos democratas.
A política externa nunca é o fator decisivo em eleições legislativas, mas a convergência de duas crises: a chegada do ebola ao país e a ofensiva contra os jihadistas no Iraque e na Síria deram um giro em muitas campanhas e prejudicaram em maior grau os democratas, disseram analistas consultados pela Agência Efe.
“Estas eleições não dependem de nenhum assunto de política externa em particular, mas os republicanos fizeram com que a eleição se centrasse no medo e na competência (do governo), e este é o pano de fundo da política externa”, disse à Efe Gordon Adams, especialista em política e diplomacia da American University.
A crise humanitária provocada há alguns meses pela chegada em massa de crianças centro-americanas ao país motivou os primeiros ataques eleitorais que tinham o horizonte para além das fronteiras, e a decapitação de dois jornalistas americanos pelo EI na Síria, seguida pelo primeiro caso de ebola dentro dos Estados Unidos, completaram a tarefa, disse Adams.
“Os candidatos republicanos aproveitaram a oportunidade para criar um ambiente de campanha que argumenta que a administração é frágil, ineficaz, incompetente e incapaz de manter os americanos seguros. O tema do medo agora supera qualquer outro, exceto o do emprego”, opinou o analista.
Os republicanos, que precisam ganhar apenas seis cadeiras nas eleições de 4 de novembro para conseguir a maioria no Senado, “promoveram com sucesso essa narrativa, e os democratas foram incapazes de responder”, argumentou.
Nos estados mais disputados, como Kentucky, New Hampshire, Iowa, Colorado e Louisiana, cada vez mais republicanos transformaram as críticas à resposta do governo de Obama ao ebola e sua recusa em suspender os voos dos países mais afetados pela doença ao EUA em uma prioridade.
Na Carolina do Norte, o candidato republicano Thom Tillis recebeu uma resposta tão positiva nas pesquisas após pedir a suspensão dos voos que sua adversária, a atual senadora democrata Kay Hagan, mudou de posição há poucos dias e também aderiu a essa reivindicação.
A questão do ebola é considerada por 74% dos eleitores “muito ou extremamente importante” na decisão de voto nas eleições legislativas, e outros 56% não aprovam a gestão do governo federal, mostrou uma pesquisa feita em outubro pela empresa de consultoria GfK.
A ênfase no ebola fez com que a atenção ao EI tenha perdido o fôlego nas últimas semanas de campanha, mas 57% dos eleitores ainda não aprovam a resposta de Obama aos jihadistas, a maioria deles por considerá-la pouco agressiva, segundo a última pesquisa do jornal “Wall Street Journal” e da emissora “NBC”.
“Há terroristas islâmicos radicais que ameaçam causar o colapso de nosso país. O presidente Obama e a senadora (democrata Jeanne) Shaheen parecem confusos sobre a natureza da ameaça. Eu não”, disse Scott Brown em um recente anúncio de televisão o candidato republicano ao Senado por New Hampshire.
O recente ataque terrorista de um muçulmano radicalizado no parlamento do Canadá fez aumentar o medo de um atentado de simpatizantes do jihadismo também nos EUA, o que muitos republicanos incorporaram em suas campanhas.
Apesar de Obama ter mobilizado uma coalizão internacional para combater os jihadistas e seu governo efetuar bombardeios tanto no Iraque como na Síria, os republicanos construíram uma narrativa sobre a Administração desde os primeiros avanços do EI, quando a Casa Branca ainda refletia sobre como responder.
“A questão da liderança é a mais poderosa para julgar a política externa dentro dos EUA, e esse tipo de discurso prejudica o governo federal”, explicou Adams.
Essas críticas à liderança de Obama estão acentuadas por causa de sua baixa popularidade, que ronda os 40%, e inevitavelmente são transferidas aos democratas, “mesmo quando muitos deles fazem o possível para distanciar sua imagem da do presidente”, explicou Benjamin Knoll à Efe.
“Na medida em que Obama é culpado de eventos negativos relacionados ao EI ou ao ebola, os democratas sairão mais prejudicados que os republicanos. As eleições legislativas são, frequentemente, um plebiscito sobre o presidente”, indicou Knoll, professor de políticas na Universidade Centre de Danville (Kentucky). EFE
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.