Mercado de trabalho está cada vez mais aberto para pessoas com deficiência
O mercado está se abrindo cada vez mais para as pessoas com deficiência, segundo a coordenadora do Programa de Ações Inclusivas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Adriana Barufaldi. As contratações, em alguns casos, chegam a ultrapassar o percentual estipulado em lei. “A gente percebe que, em algumas situações, a empresa começa [a contratar] para atender a lei e depois que desenvolve a cultura inclusiva, dispõe-se a abrir postos de trabalho para essas pessoas”, diz.
O Senai ainda não tem dados oficiais dessa procura, mas relata que cada vez mais empresários têm buscado a entidade para adequar o ambiente de trabalho à inclusão. Pela Lei 8.213/1991, de 2% a 5% dos cargos de empresas com 100 ou mais empregados devem ser ocupados por pessoas com deficiência.
Anatel abre consulta pública para a melhorar a acessibilidade
Desde 2007, cerca de 80 mil pessoas com algum tipo de deficiência passaram pelo programa do Senai. Só no ano passado, foram 30 mil. Para a coordenadora, “existe uma eficiência, e não uma deficiência. Esses alunos são capazes de responder à qualificação e responder ao mercado de trabalho tanto quanto qualquer outra pessoa”.
No entanto, uma condição necessária para a inserção é um ambiente acessível e, nisso, ainda há carências. “Não são só as empresas que têm problemas de acessibilidade. O Brasil é um país que ainda está se construindo na cultura da acessibilidade. O que a gente percebe nas empresas é a situação de um cotidiano e de uma sociedade que precisa rever seus padrões e seus valores”, explica.
Na Olimpíada do Conhecimento, 45 pessoas com algum tipo de deficiência competem em costura, panificação, mecânica de automóveis e tecnologia da informação.
Jonathan Inácio é de Londrina, no Paraná. Cego, ele disputa em tecnologia da informação. “O deficiente visual, para ser inserido no mercado de trabalho, ainda tem que lutar muito. É muito difícil. Mas a gente vai caminhando aos poucos. ” Para garantir uma vaga, ele aposta na formação. “Quanto maior a profissionalização, mais fácil fica.”
Luciano Ferreira é paraplégico. Ele era metalúrgico e sofreu um acidente de trabalho há sete anos. Para não ficar fora do mercado de trabalho, buscou formação em mecânica de automóvel e está na Olimpíada entre os melhores do país. “Não sei qual a posição, mas um lugar no pódio será meu”, diz com segurança o competidor natural de Campina Grande, que representa a Paraíba na etapa nacional.
“A gente tem encontrado dificuldade no mercado de trabalho, mas a barreira é arquitetônica. Não temos limite intelectual. O maior problema é a acessibilidade”, analisa.
Minas Gerais tem competidores nas quatro áreas da Olimpíada deste ano. A chefe de equipe, Natalia Trindade, diz que apesar do aumento das vagas no mercado de trabalho, elas ainda não são criadas na proporção suficiente. A dica para as pessoas com deficiência é buscar uma boa formação para se destacar. Desde a última edição, em 2012, a Olimpíada tem modalidades voltadas para pessoas com deficiência. “O espaço é bom para mostrar o trabalho.”
Ontem (6), no último dia de competição, Nelcy Andrade, mãe de João Marcos de Andrade, assistiu o filho em uma das provas de panificação. Ele representa o Rio de Janeiro. “Eu sempre eduquei ele para ser independente. Ele vai para escola, pega dois ônibus, paga contas. Sempre eduquei ele pra isso”, diz sobre o filho com síndrome de Down. “O João já recebeu até algumas propostas de emprego, mas teve que recusar por causa da Olimpíada. Mas ele quer trabalhar, quer montar a própria padaria”, revela a mãe.
A Olimpíada do Conhecimento, a maior de educação profissional das Américas, é realizada de dois em dois anos pelo Senai. O evento está na oitava edição e ocorre em Belo Horizonte. Hoje (7), será a premiação. Participam mais de 700 jovens.
*A repórter viajou a convite do Senai.
Editor Andréa Quintiere
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.