Merkel e Cameron se recusam a comparar referendo na Crimeia com caso escocês
Bruxelas, 6 mar (EFE).- A chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, rejeitaram nesta quinta-feira qualquer comparação entre o referendo convocado pelo parlamento da Crimeia para incorporar este território autonômo ucraniano à Rússia com a consulta de independência da Escócia do Reino Unido.
“O referendo escocês se realizará após a autorização e a negociação com o governo e o parlamento britânico. Neste caso acontecerá com uma decisão unilateral de um parlamento local que não consultou o executivo central em Kiev”, ressaltou Merkel na entrevista coletiva logo depois da cúpula europeia.
“Em processo como o que vimos na Escócia e no Reino Unido, onde se fixou em um acordo mútuo um referendo, não tenho nada contra (a consulta) mas isto é outra coisa”, acrescentou.
O referendo escocês acontecerá em 18 de setembro após longas conversas entre as forças políticas das partes e o da Crimeia em 16 de março sem discussão alguma com Kiev, lembrou a chanceler alemã.
Enquanto os líderes da União Europeia (UE) estavam reunidos em Bruxelas para abordar a crise ucraniana, o parlamento da Crimeia aprovou a incorporação desta autonomia ucraniana à Rússia e convocou um referendo para ratificar a decisão.
Da mesma forma que na consulta da Escócia, Merkel rejeitou comparar o caso da Crimeia com a independência do Kosovo.
“O caso do Kosovo foi precedido um longo processo internacional em que foram analisadas várias vezes as mais diferentes opções de negociação”, lembrou a chanceler alemã.
“Neste caso se trata de um referendo convocado sobre uma base (legal e constitucional) que nem sequer existe”, recalcou Merkel.
“A pretensão do parlamento e do governo pró-russo da Crimeia de conseguir em dez dias uma base de opinião (na população) não tem, na minha opinião, absolutamente nada a ver com uma preparação razoável de eleições ou de uma consulta”, indicou.
Além disso, acrescentou, se estão corretas as informações que afirmam que a Crimeia qualificou as tropas ucranianas de “ocupantes” e que teriam de se transformar em cidadãos russos ou abandonar a república autônoma ucraniana, “significaria se antecipar ao possível resultado do que chamam de referendo”.
“Que isso é contrário a todas as concepções democráticas está claro”, assinalou.
Também Cameron qualificou a decisão do parlamento da Crimeia de um “passo importante na direção equivocada”.
“O governo da Ucrânia deixou claro que um referendo seria ilegal e hoje os líderes europeus respaldaram sua posição”, continuou Cameron, que lembrou que no caso escocês transmitiu claramente as autoridades que a consulta deve ser “decisiva, justa e, principalmente, legal”.
“Por isso tomamos ações no parlamento britânico para garantir que o referendo teria bases legais equilibradas, e esta é a maneira correta de proceder, não como estão passando as coisas na Crimeia”, destacou.EFE
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