Mesmo após troca de prisioneiros, Kiev e rebeldes seguem trocando acusações
Boris Klimenko.
Kiev, 27 dez (EFE).- As autoridades ucranianas e os separatistas pró-Rússia se acusaram mutuamente neste sábado de dilatar o reatamento da negociações para a regulação do conflito no leste da Ucrânia, depois da troca de prisioneiros que aconteceu ontem.
“No processo negociador os terroristas tem uma postura que não é construtiva, dilatam as negociações e recorrem a provocações”, declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional e Defesa (CSND) da Ucrânia, Andrei Lisenko.
Segundo Lisenko, três militares ucranianos ficaram feridos nas últimas 24 horas na zona do conflito, apesar da trégua implantada no último dia 9.
O porta-voz indicou que as milícias pró-russas acumulam armas e apetrechos e que “junto à linha de separação de forças instalam hospitais de campanha”.
Os rebeldes pró-Rússia, por sua vez, se declararam dispostos a retomar antes do final do ano as negociações para a regulação do conflito, e atribuíram a Kiev a responsabilidade pela demora das conversas.
“Vamos fazer o possível para a que nova rodada (de negociações) do Grupo de Contato (Ucrânia, Rússia, separatistas pró-Rússia e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) aconteça antes do fim de ano”, disse o negociador-chefe das autoproclamada república popular de Lugansk, Vladislav Deinego, à agência russa “Interfax”.
Deinego não excluiu a possibilidade que a reunião seja realizada “amanhã ou depois de amanhã” e acrescentou: “Nós estamos dispostos. Esperamos a resposta de Kiev”.
Por sua parte, o representante dos separatistas pró-Rússia da região de Donetsk, Denis Pushilin, declarou hoje que por enquanto não tem informação sobre quando se retomarão as negociações.
O Grupo de Contato tinha previsto reunir-se ontem na capital bielorrussa, naquela que seria a segunda rodada de negociações desta semana, mas a reunião foi cancelada na última hora.
“Ainda não contamos com informação sobre a data da segunda rodada de negociações. Desconhecemos também em que formato se realizará, se será presencial, com a participação dos membros do Grupo de Contato, ou a distância, com o uso de internet”, disse Pushilin.
Apesar do cancelamento da reunião de ontem em Minsk, as autoridades ucranianas e os separatistas realizaram nesta sexta-feira uma troca em massa de prisioneiros de guerra: 146 soldados ucraniano por 222 milicianos pró-Rússia.
Os separatistas pró-Rússia libertaram hoje outros quatro prisioneiros ucranianos, três militares e um civil, em cumprimento do acordo de troca alcançado na quarta-feira passada.
A troca de prisioneiros foi o último avanço no processo negociador para a regulação pacífica do conflito armado no leste da Ucrânia, que já causou mais de 5.000 mortes e provocou o êxodo de centenas de milhares de refugiados.
Segue pendente o cumprimento de uma série de pontos do Memorando de Minsk, selado em 19 de setembro, como a retirada do armamento pesado, a criação de uma zona de segurança de 30 quilômetros e a abertura de corredores para cargas humanitárias.
O ex-presidente do parlamento e atual secretário do CSND, Alexander Turchinov, advertiu que se o processo negociador fracassar, as autoridades não terão outra opção que implantar a lei marcial no país.
“Caso o formato pacífico não dê frutos, não teremos outra alternativa”, disse Turchinov em uma entrevista ao “Canal 5” da televisão ucraniana.
Turchinov assegurou que o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, faz todo o que está em sua mão para chegar a uma regulação pacífica do conflito, mas advertiu que o chefe do Estado “não titubeará nem um minuto se sentir que não há outra via que a das ações militares”. EFE
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