Meta mais baixa de superávit primário pressiona dólar, diz economista
O dólar continua em alta e chegou a registrar R$ 3,34 nesta sexta-feira (24). Para Silvio Campos Neto, economista da Tendência Consultoria, o fator mais recente que impulsionou a elevação do câmbio foi a redução na meta de superávit primário, economia para o pagamento de juros da dívida pública.
Campos Neto explica que aumentou a percepção do mercado do risco sobre a possibilidade de rebaixamento da economia brasileira na ótica das agências de classificação de risco. Na última quarta-feira (22), o governo anunciou que a queda na arrecadação federal provocada pela retração na economia levou a equipe econômica a diminuir para R$ 8,747 bilhões – 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país) – a meta de superávit primário do setor público para este ano.
“O efeito natural disso é o aumento do risco e do próprio câmbio. O problema é que todas as agências de risco podem revisar a nota do Brasil. Talvez, não a nota, mas a perspectiva do país”, disse Campos Neto à Agência Brasil.
Sobre a existência de fatores externos pressionando o câmbio, Campos Neto considera o cenário muito volátil. Ele disse que dois fatores, no momento, são desfavoráveis ao câmbio no Brasil. Segundo ele, um é a economia da China, que tem apresentado quadro “não muito positivo”. Para ele, as informações não são animadoras.
O economista lembra a crise recente no mercado de capitais chinês, com queda acentuada nas ações. “Embora recentemente alguns números tenham sido melhores, não foi nada que tenha criado uma percepção ou afastado o risco de uma desaceleração um pouco maior. Para as moedas que têm relação um pouco maior com commodities [como o real] esse fator também é um elemento de risco” explica.
Na visão do economista, outro fator é a economia dos Estados Unidos e a expectativa de ajuste monetário, com o aumento de juros que pode ocorrer nos próximos meses. Para ele, a elevação da taxa no mercado americano atrairia os investidores para o país, o que colocaria um viés para a alta do dólar não só aqui, mas em todo o mundo.
A economista Zeina Latiff, da XP investimentos, também destaca que, na hora em que há risco de rebaixamento da nota de crédito do Brasil, obviamente há pressão na taxa de câmbio. Segundo ele, o mercado começa a “precificar” a mudança. “Com o risco de perder o grau de investimento, a taxa de câmbio é bastante sensível a isso”, pondera.
Para o presidente do Conselho Federal de Economia, Paulo Dantas da Costa, o câmbio é resultante de procura e oferta. De acordo com o Banco Central, mais dólares saíram do que entraram no país neste mês, até o último dia 17. No período, o saldo negativo chegou a US$ 2,363 bilhões. Costa lembra que a entrada de moedas estrangeiras diminui porque os residentes estão apostando menos na saúde econômica do país. Além disso, Costa identifica na situação uma coisa “um pouco especulativa” em consequência do ambiente político.
“As condições políticas não são as mais favoráveis. Até o próprio resultado da economia nas relações internas não está bom. Então, o conjunto disso aí resulta no aumento da moeda estrangeira. Sobre a redução da meta, não vejo uma relação muito próxima do ponto de vista técnico-econômico. Isso vai em linha do ponto de vista da variável política a qual me referi”, acrescenta Costa.
Procurada, a assessoria do Ministério da Fazenda não quis falar da flutuação do dólar “por ser um assunto típico do Banco Central”. O Banco Central também não quis comentar a situação atual do mercado financeiro.
A classificação de risco, ou rating, na tradução em inglês, é a nota dada por instituições especializadas em análise de crédito para países e empresas. Essas agências avaliam a capacidade e a disposição do emissor de um título em honrar, pontual e integralmente, os pagamentos de dívidas. O rating é um indicador relevante para os investidores: fornece opinião a respeito do risco de crédito da dívida do país e da empresa.
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