Meticuloso controle tenta diminuir medo de consumo de pescados em Fukushima

  • Por Agencia EFE
  • 12/01/2014 08h25

Andrés Sánchez Braun.

Onjuku (Japão), 12 jan (EFE).- Quase três anos depois do acidente de Fukushima e devido à desconfiança ainda gerada pelos persistentes vazamentos da usina nuclear da cidade, o Japão começou a mostrar finalmente ao público a meticulosa rede com a qual mede a radiação em seus produtos marítimos.

O Instituto de Pesquisa de Ecologia Marinha (Meri) é um dos 27 laboratórios que analisam para a Agência de Pesca do Japão os níveis de iodo e césio radioativos (o estrôncio deve ser calculado em outros centros) em peixes, moluscos, crustáceos, algas, e também em sedimentos e em água marinha e doce.

O Meri, situado na cidade litorânea de Onjuku (a 75 quilômetros a sudeste de Tóquio), examina diariamente 12 produtos marinhos pescados no litoral oriental do Japão, desde Hokkaido, a ilha mais ao norte, até Chiba, a leste de Tóquio.

Sua estrita metodologia evidencia os elogios recebidos pelos intensos programas japoneses de monitoramento de produtos agrícolas e marítimos por parte da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

No entanto, as portas de laboratórios como estes não haviam sido abertas à imprensa até dois anos e 10 meses depois do acidente, e só o foram após se saber, na metade do ano passado, que a usina nuclear de Fukushima ainda vaza diariamente centenas de toneladas de água radioativa ao oceano Pacífico.

Durante esse período, a suspeita dos consumidores japoneses aumentou, enquanto países como Coreia do Sul proibiram a importação de produtos do mar de boa parte do país vizinho, por considerar que Tóquio não deu informações suficientes sobre as consequências e a gestão do acidente atômico.

“Nossos esforços foram insuficientes na hora de comunicar o trabalho realizado para garantir a segurança destes alimentos”, admitiu Kiyotaka Hidaka, principal coordenador de pesquisa da Agência de Pesca.

Por isso, o governo começou a realizar campanhas em peixarias e mercados do Japão (muitos dos quais fazem suas próprias análises adicionais) para explicar os controles que são realizados ou para elaborar informativos em coreano, chinês, inglês, francês ou espanhol.

No Meri, todos os produtos que chegam diariamente foram capturados de 24 a 48 horas antes em uma profundidade de até 400 metros.

Estas caixas de produtos marítimos devem ser despachadas regularmente pelas cooperativas das prefeituras de cidades do sul do Japão de acordo com as diretrizes da Lei de Higiene Alimentar.

Cerca de 200 espécies marítimas no total, de lulas ou pepinos do mar até caranguejos e atuns, são analisados aqui a cada semana com uma escala de prioridades muito clara.

“Todas as que registraram em algum momento depois do acidente 50 ou mais becquerels de material radioativo por quilo (o limite máximo estabelecido pelo Japão para o consumo é de 100 becqueréis) e os produtos de temporada têm sempre prioridade”, esclareceu Atsushi Suginaka, representante da Agência de Pesca.

Com cada novo pescado que passa por uma das quatro unidades de tratamento, os empregados devem trocar as luvas de látex e esterilizar as facas e tábuas com álcool para não corromper a amostra.

Após limpar uma fêmea salmão recém chegada e retirar suas ovas (estas devem ser medidas à parte), a carne é introduzida em uma máquina que a pica até transformá-la em uma pasta.

Esse material é embalado e colocado durante uma hora em um dos dois detectores de germânio do Meri. O aparelho mostra os níveis de contaminação.

“Chegamos a detectar até 3.000 becqueréis de material radioativo em uma lubina pescada em Ibaraki (cidade vizinha de Fukushima). Certamente, a distribuição dessa espécie nessa região está terminantemente proibida agora”, explicou Nobuhiro Nonaka, técnico do laboratório.

O mesmo ocorre com as lubinas e linguados (ambos as espécies nadam em grande profundidade, onde se tende a acumular mais radiação) em Miyagi e Iwate, duas cidadas ao norte de Fukushima, região na qual só se podem realizar capturas para medições, mas em nenhum caso para comercializar.

“No entanto, esses não são os níveis normais”, diz Nonaka, que garante que, atualmente, 99,2% das amostras analisadas no Meri estão abaixo do limite de 100 becqueréis exigidos por lei, um número que no começo da crise nuclear era de 53%. EFE

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