Mico-leão-dourado resiste à extinção, mas ainda é uma espécie ameaçada

  • Por Agencia EFE
  • 24/09/2014 00h23

Marco Antonio Pereira.

Silva Jardim, 22 set (EFE).- Quem pega uma cédula de R$ 20 já não presta tanta atenção no animal que estampa a nota, mas sua cor vermelho-dourada se destaca na natureza: o mico-leão-dourado é um patrimônio do Estado do Rio de Janeiro, elevado a símbolo conhecido em todo o Brasil e em boa parte do mundo.

Mas o perigo de extinção ainda ronda a espécie, apesar de todo o esforço da equipe da Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD), criada para unir esforços que permitam a manutenção da espécie em seu habitat natural: a Mata Atlântica, especificamente em oito municípios do interior do estado.

A Agência EFE conheceu em Silva Jardim, uma dessas cidades, o trabalho da entidade. O geógrafo Luiz Paulo Ferraz, secretário executivo da AMLD há três anos, disse que todo o trabalho de conservação começou no início da década de 70, com pesquisas sobre a espécie já quase à beira da extinção.

A sorte dos adoráveis bichinhos começa a mudar em 1974 com a criação da Reserva Biológica de Poço das Antas, a primeira do tipo no Brasil, um marco histórico para o meio ambiente nacional.

Com isso vieram as ações de vários parceiros que desembocaram na criação da AMLD, em 1992, que juntando forças atua em várias frentes que se complementam para a conservação do mico-leão-dourado.

A bióloga Andreia Martins se dedica ao estudo e conservação da espécie há 31 anos. Ela começou como voluntária no programa de educação ambiental e agora percorre as “ilhas” de floresta atrás dos micos. “Costumo dizer brincando que eles são minha família”, confidenciou Andreia, uma apaixonada pela causa.

O mesmo disse o assistente de pesquisa Jadir Hilário Ramos, que há 27 anos aderiu à causa da proteção do mico-leão-dourado. “A situação melhorou muito neste tempo todo, o mico estava em extinção e agora com nosso trabalho a situação mudou”.

Esse trabalho envolve uma equipe multidisciplinar que atua em várias frentes. “Temos uma equipe que trabalha com educação ambiental e capacitação de professores, outra de restauração de florestas de recuperação, trabalhamos com pequenos produtores da região para que ele mantenha sua atividade e proteja sua área com o plantio de espécies, um esforço que envolve uma série de iniciativas”, relatou Ferraz.

Um esforço que vai além do monitoramento e pesquisa da espécie, tudo para que ele possa ter o melhor ambiente possível para seu desenvolvimento e manutenção de população.

São 20 funcionários que realizam este trabalho, ajudados por uma rede de pesquisadores e entidades que os apoiam, depois que o processo de reintrodução do animal foi iniciado.

“Por cerca de dez anos foram trazidos animais de zoológicos de várias partes do mundo para ajudar no processo de recuperação da população de micos-leões-dourados”, explicou Ferraz. Ele disse que os primeiros animais foram soltos na reserva de Poço das Antas, e o trabalho de reintrodução foi caro, longo e difícil.

O número de micos em vida selvagem, segundo estudo publicado recentemente, chegou com o trabalho da associação a 3.200 animais – na década de 80 a população era de apenas cerca de 200 -, mas Ferraz explicou que a espaço ainda não é suficiente: “A meta era ter 2.000 animais na natureza, vivendo em uma área de 25.000 hectares de floresta protegida e conectada (…) O grande problema hoje é a falta de área, pois com a população atual temos apenas 12.500 hectares”, explicou o secretário executivo da AMLD.

Isso porque sem uma área suficiente começa a haver problemas de superpopulação, falta de alimento e consanguinidade. “O que acontece é que a floresta é pouca, pequena e extremamente fragmentada em ilhas de vegetação”.

Os micos não atravessam as áreas de vegetação baixa, somente através dos galhos das árvores como estratégia de sobrevivência, por isso os corredores florestais são importantes para a preservação da espécie.

Carlos Alvarenga, engenheiro florestal, é o coordenador do programa de restauração florestal da associação. “Nosso trabalho é de ampliação da área de uso do mico-leão-dourado e de seu habitat”, disse, explicando como esse setor atua.

Além de todo esse trabalho em campo, Ferraz e a equipe da AMLD fazem atualmente um trabalho de “relações públicas” e articulação para que o mico-leão-dourado seja a mascote dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, o que alavancaria a causa da associação a níveis estratosféricos.

“Estamos tentando que o mico-leão-dourado seja reconhecido como o mascote dos Jogos Olímpicos que a gente vai ter no Rio de Janeiro, especialmente porque ele é uma espécie vitoriosa, ele é adorado, da cor da medalha de ouro, é carismático, com potencial muito grande de comunicação sobre a importância da floresta”, contou com um brilho nos olhos Ferraz, empolgado com a ideia de que o simpático animalzinho seja ainda mais conhecido no mundo.

O desejo da AMLD é que esta espécie ainda ameaçada possa ter um “valor” muito maior do que aquele da nota em que aparece em nossa moeda, valor esse impossível de se calcular em termos financeiros.

Que ele se torne um símbolo mundial e, principalmente, de inspiração para os atletas olímpicos brasileiros, e que pode ser resumido em uma frase: “o mico-leão-dourado é um vencedor!” EFE

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