Milhares de crianças sem pais atravessam a Europa com onda de refugiados
Vesna Bernardic.
Zagreb, 4 set (EFE).- Entre os milhares de refugiados que chegaram à Sérvia de zonas de conflito no Oriente Médio e continuam a viagem pela Europa, mais de quatro mil crianças migraram sem seus pais, segundo diversas organizações que tentam ajudá-las.
“Entre 15.280 crianças que passaram por aqui, 4.114 viajavam sem seus pais”, disse à Agência Efe por telefone o diretor do Centro de proteção de Solicitantes de Asilo de Belgrado, Rados Djurovic.
Djurovic afirmou que todas estão em más condições de higiene e muito cansadas. Além disso, muitas sofrem com ferimentos adquiridos no longo caminho.
“Há cada vez mais bebês fragilizados, com resfriados, insolação, diarreia e outros problemas de saúde que podem se agravar muito com a chegada da chuva e do frio”, advertiu o especialista.
Com relação aos menores que viajam sem pais, trata-se, em sua maioria, de adolescentes de cerca de 15 anos de idade.
“Em alguns casos, as crianças estão sozinhas porque se perderam dos pais no caminho. Também há grupos inteiros de adolescentes que partiram de suas aldeias para achar trabalho no Ocidente e enviar dinheiro para casa”, explicou.
Djurovic apontou também para a existência de redes de tráfico humano que, assim que os menores chegam à Alemanha ou outro país ocidental, os obrigam a mendigar, roubar ou os exploram de outras formas.
“Trata-se de um grupo muito vulnerável, alvo fácil de traficantes de pessoas. As crianças que tratamos não nos confessaram ser vítimas de traficantes, mas temos indícios de que em alguns casos são”, explicou.
Dragan Rolovic, diretor do Instituto da Juventude de Belgrado que mantém um centro de alojamento de estrangeiros menores de idade sem acompanhamento dos pais, teve recentemente a sorte de reunir três irmãos afegãos com seu pai.
“Após uma viagem de seis meses desde o Afeganistão, esses três irmãos, de 8, 10 e 12 anos, perderam seus pais na fronteira entre a Sérvia e a Macedônia quando a polícia chegou ao local. Os refugiados fugiram e se dispersaram, e as crianças se perderam”, contou à Agência Efe Rolovic.
A polícia encontrou as crianças, desesperadas e assustadas, e as levou ao instituto, que após uma intensa busca de dez dias conseguiu achar o pai e reunir a família.
Os adolescentes que viajam em grupo, sem pais, costumam ter alguém que os espera no país de destino e estão bem informados sobre a rota que devem usar, explicou. Apesar disso, Rolovic disse que eles também são suscetíveis a cair nas redes de tráfico humano.
Um total de 106.172 refugiados, majoritariamente da Síria, Afeganistão e Iraque, foram registrados ao entrar na Sérvia neste ano (até 2 de setembro), segundo o escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) na Sérvia.
“Estimamos que quase um mesmo número de imigrantes entrou também, mas sem passar pelo registro”, disse à Agência Efe a porta-voz da citada escritório, Mirjana Milenkovic.
A presença de refugiados está aumentando de forma quase exponencial desde maio, quando as solicitações passaram de 200 imigrantes por dia para 3 mil, segundo dados do Acnur.
Embora na Sérvia haja vários centros de amparo, são poucos os refugiados que lá permanecem por mais de cinco dias, pois todos querem seguir à Hungria, e de lá para o leste da Europa.
Mas tanto Djurovic como Rolovic consideram que os crescentes impedimentos impostos por Budapeste às pessoas que querem entrar em território húngaro, incluindo duas cercas na fronteira – uma de um metro e meio de altura já construída, e outra de quatro metros que está sendo erguida -, poderiam levar muitos refugiados a permanecer na Sérvia por mais tempo do que desejam. EFE
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