Milhares de famílias exigem a verdade sobre “bebês roubados” na Sérvia
Milhares de famílias na Sérvia exigem explicações sobre o destino de seus bebês, supostamente mortos pouco depois de nascer, mas que na realidade podem ter caído em um esquema de venda de crianças.
“Há suspeitas sobre mais de 10 mil bebês nos últimos 40 anos”, explicou à Agência Efe Vladimir Cicarevic, presidente da Associação dos Pais dos Bebês Desaparecidos da Sérvia.
Trata-se de um problema ignorado até bem pouco tempo pelas autoridades do país, que aspira entrar na União Europeia (UE) na próxima década.
Os pais afetados temem que possa se tratar de um esquema criminoso com o envolvimento de médicos, parteiras, profissionais de limpeza em maternidades e até mesmo centros sociais e serviços de registro civil, entre outros.
Um dos pais é Zoran Djordjevic, de 52 anos, cuja mulher deu à luz em 1988 em uma clínica em Vranje, na época ao sul da Iugoslávia, hoje Sérvia. Após gravidez e parto completamente normais, os médicos explicaram ao casal que o bebê nasceu com anomalias, mas não permitiu que o vissem. Apesar de não ter autorização, a mãe conseguiu ver o recém-nascido e teve a impressão que estava saudável.
Após os médicos saberem que a mãe tinha visto o bebê, ela teve que abandonar o hospital e três dias depois a família foi informada da morte sem que pudessem ver o corpo. “A documentação chegou mais tarde. Estava cheia de falhas e erros, desde o sobrenome à data que minha esposa deixou o hospital”, contou Djordjevic, convencido que o bebê foi dado para adoção para outro casal.
Nos tribunais sérvios há cerca de 3.000 denúncias por bebês desaparecidos, mas até agora não foi aberta uma investigação judicial. Em alguns casos o crime prescreveu, enquanto em outros existem lacunas legais que impediram a abertura das investigações, o que despertou profunda desconfiança em relação à Justiça por parte dos pais.
Venda de bebês
A associação de pais acredita que há grupos organizados que se dedicam a vender bebês, com preços entre 15 mil e 45 mil euros.
Em todos os casos suspeitos, a forma de atuação é similar. Primeiro, informam aos pais que o bebê morreu na noite posterior ao parto, mas não permitem que a família veja o corpo, segundo Cicarevic.
Depois, convencem os casais que não é necessário ver o corpo da criança, alegando que seria traumático ou que foi necessário enviá-lo a outro lugar para uma autópsia. Outra opção é mostrar o corpo de um bebê aos pais, mas sem garantias que seja o mesmo recém-nascido, por isso a associação de Cicarevic suspeita que se trata de bebês mortos guardados nas câmaras frigoríficas dos hospitais.
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