Milhares de libaneses de origem armênia lembram o centenário do genocídio
Beirute, 24 abr (EFE).- Dezenas de milhares de libaneses de origem armênia lembraram nesta sexta-feira o centenário do genocídio de seu povo pelo Império Otomano em meio a um grande dispositivo de segurança.
Os manifestantes se congregaram no Patriarcado armênio em Antelias, ao norte de Beirute, desde onde se dirigiram ao estádio de Burj Hammoud, em um bairro nos arredores da capital, enquanto levavam bandeiras armênias e libanesas, assim como outra branca com a flor de miosótis, que simboliza neste ano a data dessa tragédia.
“Enquanto estiver vivo nunca deixarei de me manifestar, já que não posso esquecer o sofrimento de meus parentes, especialmente o da minha avó, que morreu da forma mais atroz após ser estuprada”, disse à Agência Efe o professor Harut Amidian, presente na manifestação.
O professor assegurou, além disso, que falará sempre do genocídio com seus filhos “para que eles também não esqueçam”.
Na manifestação também era possível ver cartazes que pediam às autoridades turcas que reconheçam o genocídio e outras com palavras de ordem tais como “nunca esqueceremos” e “a verdade triunfará”.
“Não descansaremos até que a Turquia reconheça o genocídio que cometeu. É preciso julgar os que cometem crimes contra a humanidade, entre eles a Turquia, que deverá indenizar as vítimas por sua loucura e ambição”, ressaltou em declarações à Agência Efe Vicken, um estudante.
Como medida de prevenção, as forças da ordem fecharam a estrada que conduz a Beirute durante a manifestação, enquanto os moradores desde as varandas de suas casas aplaudiam.
No estádio de Burj Hammoud, vários porta-vozes da comunidade armênia sublinharam a necessidade de que todo o mundo reconheça o genocídio e pediram à comunidade internacional que faça pressão sobre a Turquia para que também reconheça.
As autoridades turcas rejeitam até agora reconhecer que os otomanos assassinaram 1,5 milhão de armênios durante a Primeira Guerra Mundial e asseguram que só 500 mil morreram pela guerra ou pela fome.
Ontem à noite, a Igreja armênia canonizou essas vítimas, que morreram de modo sistemático entre 1915-1917, sendo a primeira vez que uma Igreja cristã toma essa medida.
Por sua vez, o papa Francisco assegurou recentemente que “trata-se do primeiro genocídio do século XX”.
Por outro lado, o primeiro-ministro libanês, Tamam Salam, ligou hoje para o patriarca armênio ortodoxo Kechichian para expressar sua solidariedade por causa do centenário do “doloroso massacre que sofreu seu povo”.
“O Líbano se orgulha de todos seus cidadãos e compartilha suas causas e tragédias. Além disso, aprecia o papel positivo e construtivo dos libaneses de origem armênia em prol da pátria”, disse Salam, citado por meios de comunicação libaneses.
Estima-se que atualmente haja entre 90 mil e 150 mil libaneses de origem armênia no Líbano, que têm representantes no governo e no parlamento. EFE
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