Milhares de professores marcham na Cidade do México contra reforma educativa

  • Por Agencia EFE
  • 11/06/2015 00h24

Martí Quintana.

Cidade do México, 10 jun (EFE).- Milhares de professores procedentes de diferentes estados protestaram nesta quarta-feira no México para pressionar o governo, que após as eleições confirmou a manutenção da reforma educativa, a fim de restabelecer o diálogo sobre suas reivindicações.

Por meio de duas grandes passeatas que partiram do Palácio Legislativo e do Passeio da Reforma, uma maré de professores – a organização falava de dezenas de milhares – expressou seu repúdio à reforma promulgada em 2013 pelo presidente Enrique Peña Nieto.

Esta reforma contempla, entre vários pontos, a instauração de um sistema de avaliação obrigatório para todos os professores, uma medida que nos últimos dias aqueceu os ânimos entre os membros da Coordenadoria Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE), em greve desde o dia 1º de junho.

O exame docente foi suspenso no final de maio, mas reativado na segunda-feira passada pelo governo, que atribuiu o cancelamento a fatores “técnicos”, como falta de computadores, e políticos, pelos pleitos do último domingo, quando foram eleitos 2.016 cargos públicos, mesmo sob a ameaça de boicote eleitoral em vários estados.

Esta óbvia manobra do governo, e suas frágeis razões, são vistas pelo sindicato de professores como uma provocação, e inclusive um insulto.

“Os argumentos que apresentam é como se o México fosse um país de deficientes mentais, são irrisórios e infantis. E nos obrigam a dar uma resposta imediata”, disse à imprensa o secretário-geral da CNTE em Michoacán, Juan José Ortega, que liderou uma das marchas que transitou pacificamente pela capital.

Segundo Ortega, a avaliação docente não deveria ser “punitiva”, pois os professores podem perder sua vaga se foram suspensos várias vezes, mas “construtiva” para que superem suas falhas.

Além disso, o exame deve fugir de uma “padronização” e contemplar as particularidades de cada região.

No entanto, Peña Nieto deu na terça-feira uma mensagem taxativa: “Os processos de avaliação docente seguem valendo, nem se adiam, nem se diferem, e por nenhuma razão se cancelam”.

Perante este soco na mesa do presidente, propostas alternativas do sindicato, como planos pedagógicos para cada área, parecem não ter cabimento. Mesmo assim, os professores, cuja greve afeta mais de seis milhões de alunos, não afrouxam a queda de braço.

“Peña dizia que tudo mudaria, mas tudo segue a mesma porcaria”, cantavam hoje milhares de professores durante a manifestação.

Chegados de estados como Michoacán, Oaxaca, Guerrero e Veracruz, onde a CNTE tem seu principal respaldo, os professores buscam restabelecer as mesas de diálogo com a Secretaria de Governo e conseguir pôr fim à reforma educativa.

De acordo com a resposta que obtenham, o movimento definirá suas próximas ações para “fortalecer o plantão nacional e a mobilização”, afirmaram fontes sindicais.

Em Michoacán, os professores realizaram hoje uma queima simbólica de avaliações em frente ao Congresso estadual, lembrando os fatos da semana passada de queima de urnas e sedes de partidos.

Diante do plenário, líderes denunciaram que o governo tenta despedir 40% do magistério por meio desses exames.

“É um padrão rigoroso demais para um país com padrões muitos variados”, declarou à Agência Efe o professor de Educação Física Ibrahim Omar Tapia.

“É preciso garantir o conhecimento do professor, mas também a infraestrutura, os recursos e as condições”, acrescentou.

Neste aspecto, o professor de uma Escola Normal Rural de Michoacán, Rubén Bustos, denunciou à Efe que, em seu colégio, onde se formam futuros professores, as subvenções estatais se reduziram enormemente.

Este fato, somado à reforma educativa e ao desaparecimento de 43 estudantes em ações de autoridades corruptas e membros de um cartel de traficantes em setembro do ano passado, foram os motivos que levaram Bustos à manifestação.

Uma manifestação que, em alguns momentos, parecia uma festa com milhares de professores tirando fotos em frente aos principais monumentos da capital. Breves momentos de distração frente a uma realidade muito mais sombria para seus interesses.

Os primeiros exames estão programados para entre os dias 20 e 22 de junho e, até maio de 2016, avaliarão meio milhão de professores, segundo disse Peña Nieto ontem diante de diretores do grupo espanhol BBVA, que aplaudiram sua determinação. EFE

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