Milhares de refugiados chegam à Alemanha em busca da terra prometida
Rodrigo Zuleta.
Berlim, 5 set (EFE).- Milhares de refugiados chegaram à Alemanha neste sábado, país que muitos veem como a terra prometida após fugirem da Síria e ficarem vários dias na Hungria, onde não se sentiram bem amparados pelas autoridades.
“Vim para cá porque aqui tenho certeza, eu fugi da guerra. A Alemanha quer que venhamos para nos ajudar”, disse o jovem sírio Mustafa em entrevista à emissora alemã “ARD”. Outro jovem entrevistado disse que vinha à Alemanha para encontrar a “mãe”, em referência à chanceler Angela Merkel.
Até a noite deste sábado (horário local), cerca de seis mil refugiados já tinham chegado a diversas cidades alemãs. Os primeiros trens especiais chegaram a Munique, onde os refugiados foram recebidos pelas autoridades locais e por muitos cidadãos com cartazes de boas-vindas.
“Em casos de urgência é preciso ajudar, e por isso ajudamos. Mas todos os países têm que cumprir com suas obrigações. A Alemanha acolheu muitos refugiados e seguirá acolhendo, a cultura de boas-vindas é grande entre nós. Mas precisamos que os outros países europeus também assumam compromissos”, disse o ministro da Chancelaria alemã, Peter Altmeier.
Com base na situação crítica que ocorria na Hungria, Alemanha e Áustria decidiram permitir a entrada dos refugiados em seus territórios.
No entanto, a maioria dos refugiados chegavam à Áustria apenas como um lugar de passagem – poucos pediram asilo no país -, e a maioria seguiu caminho em direção ao território alemão.
A Alemanha distribuirá os refugiados que chegaram neste sábado de acordo com o sistema de cotas estabelecido na chamada Fórmula de Königstein, que leva em conta tanto a população como a renda nos 16 estados federados.
Seguindo esse sistema, atualmente o estado federado que mais refugiados recebe é a Renânia do Norte-Vestfália, seguida pela Baviera.
O sistema foi criado originalmente em 1949, para estabelecer as contribuições ao financiamento de instituições de pesquisa fora das universidades, mas posteriormente foi aplicado a outros assuntos nos quais é preciso dividir as cargas entre os estados federados.
Desde 2005, a Fórmula de Königstein também é aplicada para a distribuição de refugiados entre os 16 estados federados.
A polícia federal alemã calculou inicialmente que o número de refugiados que chegarão à Alemanha procedentes da Hungria neste sábado deve se situar entre cinco e sete mil, o que triplicará o fluxo dos dias anteriores.
“É três vezes maior que nos outros dias. Pouco a pouco chegamos aos limites de nossas capacidades”, disse o porta-voz da polícia federal Ivo Priebe.
Uma crítica em relação à decisão de abrir a fronteira veio do ministro do Interior da Baviera, Joachim Hermann, que se queixou do fato do estado não ter sido consultado e classificou a medida como um sinal equivocado para a Europa.
No entanto, a maioria dos representantes das autoridades regionais se concentraram em ressaltar sua disposição a ajudar e em elogiar a atitude da maioria da população, que se mostrou bastante aberta.
O primeiro-ministro dio estado da Turíngia, Bodo Ramelow, disse inclusive que a disposição de ajudar do povo quase o fez “chorar de alegria”.
Merkel conversou por telefone neste sábado com o presidente húngaro, Viktor Orbán, sobre a crise dos refugiados, após muitas divergências entre os dois países sobre o tema.
“Os dois concordaram que tanto a Hungria como a Alemanha devem cumprir seus compromissos europeus, incluindo o estabelecido no acordo de Dublin sobre os refugiados”, disse o porta-voz adjunto do governo alemão, Georg Streiter.
Segundo Streiter, ambos os políticos concordaram que a autorização para que milhares de refugiados viajassem hoje da Hungria para a Alemanha deve ser uma exceção.
Recentemente, Orbán disse que o problema dos refugiados sírios não era um problema europeu, mas um problema alemão, depois que Merkel afirmou que não obrigaria nenhuma pessoa procedente da Hungria a voltar para o lugar onde tocou o solo europeu.
Orbán acusou a Alemanha de ter contribuído para aumentar o fluxo de refugiados com essa declaração. Diante disso, Merkel respondeu que a Alemanha era “moral e juridicamente obrigada” a agir de tal modo e lembrou que todos os países da União Europeia têm que cumprir o estipulado na convenção de Genebra. EFE
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