Milhares de viagens e novas dificuldades em ano de reforma migratória em Cuba

  • Por Agencia EFE
  • 14/01/2014 19h45

Havana, 14 jan (EFE).- A reforma migratória de Cuba completa nesta terça-feira um ano em vigor, em que milhares de cidadãos puderam viajar ao exterior sem as restrições vividas durante décadas, mas com outras dificuldades como o preço das passagens e a obtenção de vistos.

Segundo os últimos números oficiais divulgadas na ilha, entre janeiro e novembro de 2013, 185 mil cubanos saíram do país, muitos pela primeira vez e vários mais de uma vez nesse período, quando foram contabilizadas quase 260 mil viagens.

Os Estados Unidos, onde vivem a maior parte dos cubanos emigrados e exilados, foi o principal destino desses viajantes, 36%, seguido de países como México, Espanha, Panamá, Equador, Itália e Rússia.

A reforma migratória completa doze meses como uma das medidas mais destacadas do plano empreendido pelo presidente Raúl Castro para “atualizar” a economia socialista e que incluiu nos últimos anos o fim de algumas proibições e restrições que os cubanos sofreram por décadas.

Até os EUA, rompidos com Cuba há mais de cinco décadas, reconheceram a importância da medida, como afirmou recentemente em Havana, Alex Lee, secretário assistente adjunto do Departamento de Estado, que participou na semana passada da última rodada do diálogo migratório entre os dois países.

Para ele a mudança das leis migratórias cubanas foi “muito significativa”, “enormemente bem-vindo” e teve além disso um efeito multiplicador no número de vistos concedidos a cubanos: 32 mil no último ano fiscal, o que representa o dobro do ano anterior.

Mas fazer as malas e viajar continua sendo complicado para os cubanos, que agora enfrentam novos problemas, desta vez comuns aos de outros cidadãos do mundo.

Uma dessas dificuldades é o custo das passagens: em um país aonde o salário médio mensal mal chega a US$ 20 muitos bolsos não podem se permitir gastar os US$ 400 que custa um bilhete de ida e volta a Miami ou os US$ 1.200 que é preciso pagar para voar para a Espanha e voltar (tarifas pesquisadas hoje pela Agência Efe).

“A mim, (a reforma migratória) não beneficiou em nada. Tenho muita vontade de viajar, mas não da conta”, se lamentava Hiram, um taxista de 41 anos.

“A maioria dos cubanos não têm dinheiro suficiente para viajar, e os jovens não podem economizar e comprar um passaporte e uma passagem se não tiverem amigos ou parentes fora. Além disso, todas as embaixadas nos veem como possíveis emigrantes”, criticou Amanda Sánchez, uma estudante universitária de 20 anos.

Antes a dor de cabeça dos cubanos era conseguir a “permissão de saída” dada pelo governo e que foi eliminada com a reforma migratória, agora o pesadelo na maior parte dos casos é conseguir o visto do país de destino.

Muitos se queixam que alguns países endureceram sua política de vistos para os cubanos com novos requerimentos e embaraçosos trâmites como cartas de convite, avais bancários e antecedentes criminais.

“Cuba suavizou suas leis, mas o contrário aconteceu com as embaixadas. As medidas que Cuba desprezou, como as cartas de convite, agora são novos requisitos em vários consulados”, disse a Efe Alexander Luis, de 38 anos.

Também as autoridades migratórias da ilha ressaltam que, após a reforma, a principal limitação para visitar o exterior é a obtenção de visto, admitiu o coronel Lamberto Fraga, segundo chefe de Imigração e de estrangeiros do Ministério do Interior.

Apesar disso o governo diz que a aplicação da reforma migratória se desenvolveu com “normalidade” sem ter havido um êxodo em massa, já que a tendência majoritária (60%) é de retorno.

Quem também pôde viajar depois da mudança da reforma migratória foram destacados membros da dissidência interna, como a líder das Damas de Blanco, Berta Soler, o psicólogo Guillermo Fariñas e o ativista de direitos humanos Elizardo Sánchez.

A blogueira Yoani Sánchez, também fez em 2013 várias excursões internacionais após anos de reiteradas negativas de sair do país.

Hoje, em seu site “geração Y”, Yoani Sánchez fez um balanço de um ano de reforma migratória e lamentou que são muitos os cubanos que a aproveitaram para deixar definitivamente o país e também muitos os que não podem custear nem os US$ 100 da obtenção do passaporte.

“2013 foi uma mistura de malas, despedidas, retornos, nomes tirados das agendas telefônicas, suspiros, longas filas nos consulados, reencontros, anúncios de casas à venda para pagar passagens avião. Um ano para partir e um ano para ficar”, resumiu a blogueira. EFE

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