Ministra pede punição para internautas que ofenderam estudante de medicina
Em meio às manifestações de apoio do governo e da sociedade civil direcionadas a Ana Luiza Silva de Lima, estudante de medicina que foi alvo de ofensas nas redes sociais após discursar na cerimônia de dois anos do Programa Mais Médicos, no último dia (4), a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, disse hoje (13) que os responsáveis pelas ofensas devem ser punidos.
Eleonora informou que entrou em contato com a Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres do Rio Grande do Norte solicitando providências das autoridades no estado para identificar os autores das ofensas e puni-los. “Peço investigação, julgamento e punição. Quem a ofendeu tem que pagar, tem que ser investigado e tem que responder”, afirmou a ministra, em entrevista à Agência Brasil.
No evento, no Palácio do Planalto, com a presença da presidente Dilma Rousseff e de ministros, a estudante de medicina do campide Caicó, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Ana Luiza Lima, falou sobre a oportunidade de acesso à educação que teve por meio de incentivos de políticas públicas do governo. Em seguida, internautas postaram comentários em sua página do Facebook em que a chamam de “médica vagabunda de pobre”, “vadia” e “ignorante”, entre outras ofensas.
A estudante, que vive no sertão nordestino, entrou na primeira turma de medicina do campi de Caicó, que faz parte da política de inclusão regional no ensino de medicina. No discurso, ela relatou que não teria condições de se manter na capital do estado para cursar a universidade e, com a abertura do campi, o sonho se tornou possível.
A ministra lamentou o episódio e disse que as ofensas demonstram a dificuldade da sociedade em conviver com a diferença de posições. Afirmou também que os comentários demonstram preconceito de classe social e de gênero. Para Eleonora Menecucci, o ocorrido mostra ainda que as diferenças políticas estão sendo transformadas em atos de violência.
“A classe dominante, que sempre entrou na universidade, que sempre foi a elite da medicina no nosso país, não aceita, não convive com políticas sociais de inclusão do nosso governo que possibilitou que milhares de jovens entrassem na universidade”, disse a ministra.
A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, condenou os ataques a Ana Luiza. “A aluna que na semana passada deu seu depoimento na cerimônia do Mais Médicos, nordestina, filha de agricultores, agora é atacada de forma machista, fascista, nas redes sociais. Hoje, temos as mesmas oportunidades de estudar nas mesmas salas que os outros sempre tiveram”, afirmou.
A integrante da coordenação nacional da Marcha Mundial das Mulheres, que reúne mulheres em campanha contra a pobreza e a violência, Nalu Faria, disse que o episódio é um reflexo do recente crescimento do conservadorismo e da intolerância no país. Segundo ela, nesse contexto surge o preconceito de todas formas, inclusive contra as mulheres.
“No caso das mulheres, junto com o preconceito de classe, tem o preconceito de gênero, toda essa questão do machismo, por isso chamam de vagabunda, muitas vezes fazem alusão ao corpo. Vemos ai uma conjugação de preconceitos que tem a ver com uma reação de tentar expressar que essas pessoas continuem na subalternidade, sem direitos, sem poder viver com autonomia”.
A presidente Dilma Rousseff prestou solidariedade a Luiza por meio do Facebook. Segundo Dilma, o Brasil é maior que o ódio e a intolerância e é preciso respeitar as opiniões e a liberdade de expressão. “Quero expressar aqui o meu repúdio a toda forma de ódio e de intolerância contra quem quer que seja, em especial contra essa menina nordestina, que é um exemplo de superação”, postou na rede social.
Hoje, a presidente falou mais uma vez sobre o assunto durante discurso em cerimônia no Palácio do Planalto, lembrando que a estudante comoveu ao relatar seu sonho de fazer medicina e a dificuldade por morar onde antes não havia o curso. “Essa menina, que acredito que é extremante valorosa, fez aqui algo que comoveu. Ela saiu daqui e foi muito maltratada na internet. Maltratada da forma como a gente conhece quando se trata de mulher”, disse.
O Ministério da Educação também prestou solidariedade. “Por contar sua história, Ana Luiza sofre agora com a intolerância e o preconceito nas redes sociais, infelizmente ainda presente”, postou no Facebook.
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