Minoria árabe de Israel vai às urnas em busca da integração
Elías L. Benarroch.
Jerusalém, 16 mar (EFE).- A minoria árabe de Israel, constituída por mais de 1,6 milhão de habitantes, irá na próxima terça-feira às urnas em uma coalizão histórica que busca uma maior influência no parlamento israelense e equiparar seus direitos aos da maioria judaica.
A oficialmente chamada Lista Árabe Unida, que reúne democratas, nacionalistas e islamitas de quatro partidos, se transformou na esperança de milhares de árabes-israelenses já que, segundo as pesquisas, obteria entre 12 e 13 cadeiras, o que a transformaria na terceira ou quarta força política do Knesset (parlamento).
“Nossa mensagem é um de associação para todos os setores frágeis, sem diferença de religião, nacionalidade ou gênero. De associação entre todos aqueles que desejam uma paz verdadeira, a igualdade e a justiça social”, defende nesta campanha Aiman Odeh, líder desta nova coalizão de esquerda.
Constituída no final de janeiro após grandes esforços para conciliar ideologias tão diferentes como a religiosa do Movimento Islâmico e a secular da frente esquerdista judeu-árabe Hadash, a nova coalizão foi produto curiosamente do que Odeh considera “um processo de deslegitimação da população árabe” de Israel.
“O aumento na cláusula de barreira eleitoral (proporção para um partido entrar no parlamento, que passou de 2% para 3,25%) tinha o objetivo de neutralizar a influência dos partidos árabes, que estavam representados por pequenas legendas”, explicou sobre esta iniciativa legal promovida pela direita nacionalista no último mandato.
Odeh acrescentou que foi então quando aconteceu o que chamou de “milagre”, porque “os árabes se negaram a cair na armadilha” e ficar marginalizados por uma metade da sociedade israelense “cada vez mais direitizada e racista”.
A força da nova coalizão depende em grande medida do índice de participação da comunidade árabe, que nas últimas eleições de 2013 foi de apenas 54%, 13 pontos percentuais a menos que a média nacional.
“Abençoada” pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, com quem deputados do partido se reuniram antes de anunciar o acordo de coalizão, a Lista Árabe Unida representa sobretudo os palestinos que ficaram dentro do território reconhecido de Israel em 1948, cerca de 90% das diferentes minorias de origem árabe.
Trata-se de um coletivo que, ao longo das últimas seis décadas, passou por várias fases em seu desejo de integração na sociedade israelense, na qual em teoria desfruta de plenos direitos legais, mas na prática é frequentemente discriminada.
“A discriminação mais simples começa no tratamento diário, e talvez o exemplo mais eloquente seja no aeroporto, onde um árabe é tratado imediatamente como um suspeito”, disse à Agência Efe Wadih Abu Nasser, analista político de Haifa e proprietário de uma empresa de relações públicas.
Além disso, ele lembra que as estatísticas oficiais falam por si e refletem com clareza que a minoria árabe recebe menos orçamentos para projetos municipais, menos autorizações para construção de casas e menos financiamento público para incentivar a excelência estudantil.
“Não, não é fácil ser árabe em um país judeu, onde muitas de suas leis concedem uma igualdade que é só parcial. Por exemplo, em tudo o que é relacionado com a distribuição de terras públicas, ou no fato de que se defina como um Estado judeu”, ressaltou.
Concentrados no deserto do Neguev e na Galileia, e em menor medida em Haifa, Tel Aviv-Yaffo e Jerusalém, a comunidade árabe-israelense se vê afetada por um dos índices de pobreza mais altos do país, só inferior ao dos judeus ultra-ortodoxos.
Nesta conjuntura, 77% dos árabes-israelenses quer que a Lista Árabe Unida dê prioridade em sua agenda “aos problemas econômicos e sociais da comunidade”, e apenas 16% defendem a priorização da resolução do “conflito com os palestinos”, segundo uma pesquisa do Instituto StatNet, especializado nesta comunidade. Os 7% restantes acreditam que os dois problemas devem receber a mesma atenção.
Mais surpreendente ainda é o decisivo apoio (71%) que os entrevistados na pesquisa deram à possibilidade de que a nova coalizão seja integrada – pela primeira vez na história política local – em uma coalizão de governo, possibilidade à qual somente 13% se opuseram.
A pergunta sobre se os árabe-israelenses devem apostar na plena integração em Israel é um debate muito conhecido, afirmou Abu Nasser, garantindo que “a população é muito mais pragmática que sua liderança”, e os deputados da nova coalizão deverão mostrar que se preocupam com seu bem-estar para ganhar a confiança do eleitorado. EFE
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