Morales atribui perda de redutos políticos a machismo e voto contra corrupção
La Paz, 30 mar (EFE).- O voto de castigo contra políticos corruptos e o machismo diante de uma candidata mulher e indígena são as principais razões que o presidente da Bolívia, Evo Morales, deu nesta segunda-feira para a derrota nos principais redutos políticos de seu partido nas eleições regionais de ontem.
“Lamento muito que em La Paz tenhamos perdido as eleições”, afirmou Morales em entrevista coletiva sobre a folgada vitória da candidatura opositora neste departamento. O partido do presidente também perdeu as eleições para a prefeitura da cidade de El Alto, até então um dos principais redutos do governismo.
Os dados divulgados até agora são de pesquisas de boca de urna e de contagens rápidas divulgadas pela imprensa boliviana, que tradicionalmente são considerados válidos pelo governo e a oposição diante da habitual demora do Tribunal Supremo Eleitoral em anunciar os resultados oficiais.
Segundo Morales, o caso de El Alto é preocupante. Nesta cidade, a opositora de origem aimara Soledad Chapetón venceu as eleições para a prefeitura com 55,2% dos votos, contra 31,8% do candidato do Movimento ao Socialismo (MAS) Edgar Patana, que concorria à reeleição. Morales disser que “existiram acusações” de corrupção contra Patana que devem ser investigadas.
“Se isso é verdade, o povo deu um voto de castigo contra a corrupção e, se é assim, felicito o povo de La Paz”, afirmou o governante.
Por outro lado, atribuiu a perda do governo de La Paz à condição de mulher indígena da candidata governista, Felipa Huanca, que obteve 29,2% dos votos, enquanto o intelectual aimara Félix Patzi, um dissidente do MAS e hoje opositor, conquistou 52,1%.
“Sinto que ainda há machismo e também discriminação contra uma mulher de origem camponesa”, inclusive por parte das mulheres, censurou Morales.
O presidente contou que quando acompanhava Huanca durante a campanha “as mulheres a olhavam de soslaio”, com “inveja e cobiça”.
Outra derrota que preocupa Morales foi a da prefeitura de Cochabamba, a região onde iniciou sua carreira política como líder cocaleiro nos anos 90.
“Tinha muita confiança em Cochabamba. Vamos avaliar a que se deve a derrota nessa cidade”, admitiu.
O opositor José María Leyes foi eleito prefeito da cidade com 56,7% dos votos, apesar do MAS ter mantido o governo do departamento de Cochabamba graças ao 60,3% obtido pela candidatura do ex-ministro de Comunicação Ivan Canelas.
Apesar das derrotas em localidades estratégicas, Morales se mostrou “muito otimista e muito contente”, porque, segundo sua opinião, “é falso que o MAS tenha perdido” as eleições.
“Melhoramos e aumentamos, só me preocupam os resultados em La Paz (El Alto faz parte do departamento de La Paz) e Cochabamba”, afirmou o presidente.
Morales ressaltou, além disso, que muitos dos opositores vitoriosos saíram das fileiras do MAS.
Segundo os resultados extraoficiais divulgados até agora, o MAS ganhou quatro dos nove governos de departamentos do país, enquanto a oposição triunfou em três. Em dois, deverá ser necessário um segundo turno.
A participação nas eleições foi de cerca de 85% da população convocada a participar do processo. O voto é obrigatório na Bolívia.
“Novamente o povo boliviano demonstrou que é democrático”, disse Morales. EFE
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