Morosidade da Justiça acumula quilos de drogas em delegacias do Paraguai

  • Por Agencia EFE
  • 04/02/2015 10h49
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Santi Carneri.

Curuguaty (Paraguai), 4 fev (EFE).- A lentidão da Justiça tem provocado o acúmulo de quilos e quilos de maconha em delegacias do Paraguai, e fez com que no mês passado 252 quilos de cocaína apreendidos tenham sido subtraídos de um depósito.

Por conta do roubo da droga, ocorrido em uma dependência policial de Pedro Juan Caballero, cidade que faz fronteia com o Brasil, as autoridades judiciais começaram a queimar evidências de causas de até dez anos atrás, segundo dados fornecidos à Agência Efe pela Polícia Nacional e pela procuradoria.

Na quinta-feira passada, um juiz ordenou a destruição da maior carga incinerada do país em muito tempo. Ao todo, 12 toneladas de maconha que foram queimadas na cidade de Curuguaty, no departamento de Canindeyú, um dos corredores do narcotráfico voltado ao Brasil.

Três dias antes, as autoridades já haviam queimado 1.212 quilos de cocaína apreendidos em diferentes operações realizadas entre 2013 e os primeiros dias deste ano.

Este volume incomum de destruição de evidências acontece uma semana depois de 252 quilos de cocaína terem desaparecido de uma delegacia em Pedro Juan Caballero, cidade conhecida por ser refúgio de criminosos brasileiros graças à falta de controle na fronteira.

Até agora, três policiais são acusados pelo roubo da carga, indiciados por devolver a droga ao dono original, um “barão do tráfico” de Pedro Juan Caballero que está foragido.

O procurador responsável pelo setor antidrogas de Canindeyú, Christian Roig, relatou à Efe que esse fato serviu para “chamar a atenção dos julgados”. No entanto, a incineração de toda a droga acumulada pelas autoridades continua à espera por conta de problemas de logística e de recursos.

Em Assunção, o departamento antidrogas da polícia guarda dez toneladas de maconha em condições precárias, segundo o chefe do setor, o delegado Bartolomé Gustavo Báez. “Inventamos um lugar. Não temos infraestrutura no depósito e há goteiras. Precisamos de um lugar só para isso”, acrescentou.

De acordo com ele, as evidências judiciais ficam a cargo da procuradoria, e o órgão é que designa quem deve guardar a droga. “Temos muita quantidade acumulada nos armazéns por diversas causas, de muitos lugares e de diferentes batidas”, admitiu o chefe antinarcóticos.

Báez garantiu que os departamentos (estados) de fronteira com o Brasil, como Canindeyú e Amambay, são os principais produtores de maconha ilegal e de onde mais se expropriam cargas.

Nos últimos anos, o Paraguai se transformou no maior produtor de maconha da América do Sul, a partir de onde os grupos traficantes enviam ao Brasil um montante de, aproximadamente, 30 mil toneladas por ano, segundo as autoridades.

O tráfico da droga se expandiu tanto que chegou à parte da classe política paraguaia e o termo “narcopolítica” foi popularizado entre os cidadãos.

O conceito ganhou força depois do assassinato, em outubro do ano passado no departamento de Canindeyú, do jornalista Pablo Medina e de sua assistente Antonia Almada.

A procuradoria acusou Vilmar Acosta como mentor do crime. Ele era prefeito de Ypejhú pelo Partido Colorado e teria ordenado o crime em represália ao trabalho de Medina, correspondente do jornal “ABC Color” e conhecido por suas investigações sobre o mundo do narcotráfico.

“A realidade da narcopolítica vai aparecendo. Vamos descobrindo que a máfia está em todas as partes, inserida em todos os partidos políticos de alguma maneira e em todas as esferas públicas ou privadas. Manejam muito poder econômico”, explicou Roig, um dos encarregados de investigar o caso Medina.

Segundo o procurador, por trás da morte do jornalista está todo um emaranhado de interesses, todos ao redor do tráfico de drogas.

“Estamos vendo formas para capturar os foragidos do caso Medina, mas isso vai levar um tempo porque eles têm apoio. Eram políticos da região e têm cúmplices que os encobrem”, ressaltou. EFE

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