Morte de outro negro por disparos de um policial branco causa tensão nos EUA

  • Por Agencia EFE
  • 24/12/2014 21h51

Washington, 24 dez (EFE).- A morte de um jovem negro, que estava supostamente armado, após vários disparos de um policial branco em Berkeley, cidade próxima a Ferguson, palco de violentos protestos raciais nos últimos meses, reavivou as tensões nesta quarta-feira nos Estados Unidos.

O jovem, de 18 anos, identificado como Antonio Martin, foi morto na noite passada em um posto de gasolina de Berkeley, situada a cerca de oito quilômetros de Ferguson, onde a morte em agosto de outro jovem afro-americano, que não estava armado, também pelos tiros de um policial branco, provocou uma onda de protestos em todo o país.

O prefeito de Berkeley, Theodore Hoskins, anunciou uma investigação para esclarecer o incidente, ao mesmo tempo em que enfatizou que este caso não é comparável com o de Ferguson e pediu que as pessoas evitem “tirar conclusões precipitadas” que possam provocar mais distúrbios.

Hoskins destacou que Berkeley é uma cidade na qual 85% da população é afro-americana, assim como a maioria de seus funcionários, ao contrário do que acontece em Ferguson.

“O prefeito é negro”, enfatizou, assim como o chefe do departamento de polícia, motivo pelo qual assegurou que há uma sensibilidade diferente em relação a este tipo de caso.

“Nossa experiência é diferente à da cidade de Ferguson”, afirmou, ao mesmo tempo em que pediu aos cidadãos para respeitar a propriedade privada.

O tiroteio provocou algumas horas de tensão nas imediações do posto de gasolina, aonde chegaram para protestar cerca de 200 pessoas, segundo meios de comunicação locais, que enfrentaram a polícia e lançaram material pirotécnico.

Os enfrentamentos acabaram ao amanhecer com um saldo de quatro detidos e dois policiais feridos.

Segundo a versão policial, o agente estava realizando uma patrulha rotineira quando parou no posto de gasolina Mobile Gas, desceu do veículo e se aproximou de dois indivíduos, um dos quais lhe apontou uma arma.

“Temendo por sua vida, o oficial realizou vários disparos contra o sujeito e lhe feriu mortalmente”, indicou em comunicado o departamento de polícia do Condado de St. Louis, que indicou que a outra pessoa fugiu.

As câmeras do posto de gasolina registraram o fato e a polícia recuperou no local a arma que Martin supostamente apontou para o agente, embora aparentemente não tenha efetuado nenhum disparo.

O chefe do departamento de polícia do Condado de St. Louis, Jon Belmar, disse entender as “emoções” causadas por essa morte, mas destacou a presença da arma como uma ameaça para a vida do agente.

Belmar informou que o policial, cujo nome não foi revelado, tem 34 anos, com seis de experiência na instituição.

Em relação ao falecido, assinalou que tinha antecedentes e já havia sido detido por roubo à mão armada.

Por sua vez, o pai do jovem, Jerome Green, afirmou à emissora “CNN” que seu filho disse que sairia para se encontrar com sua namorada e não mencionou que fosse ver nenhuma outra pessoa.

O governador do Missouri, Jay Nixon, que foi criticado por sua gestão da crise de Ferguson após a morte do jovem Michael Brown, ressaltou em comunicado que o caso de Berkeley “lembra que os agentes desempenham um trabalho difícil e, às vezes perigoso, protegendo aos cidadãos e a si mesmos”.

Os protestos em Ferguson voltaram a ganhar força no mês passado depois que um júri decidiu não acusar o policial Darren Wilson pela morte de Brown, o que suscitou a indignação da comunidade afro-americana pela resposta desproporcional contra o jovem que, segundo testemunhas, levantou as mãos em alto em sinal de rendição.

A indignação se estendeu a outras partes do país, onde ocorreram casos similares, como em Nova York, onde outro afro-americano, Eric Garner, vendedor ambulante, morreu em decorrência de uma chave de braço não autorizada aplicada por um policial quando tentava detê-lo.

Apesar dos gritos desesperados de Garner dizendo que não podia respirar, o policial não interrompeu a ação e, mesmo assim, também foi inocentado por um grande júri.

O ambiente se crispou ainda mais no fim de semana passado quando um afro-americano de 28 anos, que tinha antecipado nas redes sociais que pensava em cometer um ataque como vingança pela morte de Garner e Brown, matou a tiros dois policiais em Nova York. EFE

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