Morte de promotor abre novo cenário político em ano eleitoral na Argentina

  • Por Agencia EFE
  • 19/01/2015 21h49
  • BlueSky

Mar Marín.

Buenos Aires, 19 jan (EFE).- A inesperada morte do promotor Alberto Nisman é um dos eventos que mais comoveram a Argentina desde o retorno da democracia e desenha um novo cenário político de consequências imprevisíveis em um ano marcado por uma acirrada corrida eleitoral.

Embora o relatório preliminar da autópsia tenha confirmado que Nismam morreu com um tiro na cabeça disparado pela arma encontrada ao seu lado e que não há evidências da participação de terceiros em sua morte, a sombra da dúvida paira sobre a investigação.

Após oito anos de trabalho, o promotor da causa do atentado contra o centro judaico Amia concluiu que o Irã planejou o ataque e que o Hezbollah o perpetrou. Ele chegou a denunciar presidente argentina, Cristina Kirchner, por considerar que o acordo fechado com Teerã em 2013 implicava no acobertamento dos suspeitos do ataque que deixou 85 mortos em 1994.

Essa denúncia sem precedentes seria detalhada hoje para um grupo de legisladores em uma comissão parlamentar, com o suporte de gravações de conversas telefônicas recolhidas em 300 cds.

Após a abertura do processo, Nisman tinha confiado a alguns jornalistas nos últimos dias que sua própria vida estava em jogo neste processo, embora ninguém pudesse imaginar 24 horas atrás como suas palavras seriam premonitórias.

Sua morte pôs Cristina Kirchner no olho do furacão mais uma vez e entrou totalmente na agenda política.

A oposição em cascata pediu uma investigação profunda, a revogação do acordo com o Irã e uma declaração da presidente.

“Sem dúvida, é um dos eventos políticos mais importantes da Argentina, tanto pela gravidade institucional que representa como pelo inesperado”, sustentou o analista Patrício Giusto, diretor de Diagnóstico Político.

“As consequências políticas disto ainda são muito difíceis de prever, mas podemos supor que vão ser muito importantes por todas as provas que aparentemente ele tinha reunido, que demonstrariam que a presidente Cristina Kirchner estaria por trás de uma manobra de encobrimento da autoria do atentado à Amia”, continuou.

Para ele, com este fato, Cristina Kirchner “fica muito debilitada”, embora a chave estará no trabalho do promotor que sucederá Nisman na investigação, que será designado depois do dia 31 de janeiro.

Além disso, “esta morte inesperada criou um novo cenário político no país”, avaliou o analista, que insistiu que será muito difícil levantar o “manto da suspeita” que rodeia o caso no resto do mandato de Cristina Kirchner, que encerra oito anos de governo em dezembro.

“Mesmo que se comprove que foi um suicídio e não um assassinato induzido nem nada disso, essa suspeita acompanhará a presidente até o final de seu mandato, caso efetivamente tenha liderado, coordenado ou autorizado uma operação de acobertamento no atentado da Amia”, concluiu.

Com a comoção provocada pela morte de Nisman, a investigação sobre o atentado contra a Amia se transformou em uma prova de fogo que medirá a força das instituições e a qualidade da democracia argentina. EFE

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.