Moscou oferece contato a Kiev após intensificar presença militar na fronteira

  • Por Agencia EFE
  • 13/03/2014 16h44
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Arturo Escarda

Moscou, 13 mar (EFE).- A Rússia, cada vez mais pressionada pela comunidade internacional, entreabriu nesta quinta-feira uma porta a um eventual primeiro contato com as novas autoridades da Ucrânia após intensificar sua presença militar na fronteira que compartilha com esse país e enviar aviões de combate à Bielorrússia, vizinha de ambos.

Tropas de infantaria, artilharia, destacamentos mecanizados e unidades de paraquedistas, as forças de elite russas melhor preparadas para o combate, participam de manobras de grande envergadura em várias regiões que fazem limite com a Ucrânia.

“Os comandantes dos destacamentos treinam na organização diversos tipos de combate, aprendem a pensar de forma não estereotipada, enganar o inimigo e conseguir o fator surpresa”, informou nesta quinta-feira o Ministério da Defesa russo.

Em outro gesto encaminhado aparentemente a demonstrar o poderio militar russo, Moscou enviou seis caças e três aviões de transporte militar à vizinha Bielorrússia para realizar, entre outros trabalhos, missões de espionagem aérea.

Após mostrar força nas fronteiras da Ucrânia, a Chancelaria russa anunciou hoje sua disposição de comparecer amanhã a uma reunião em Minsk de vice-ministros de Relações Exteriores da pós-soviética Comunidade dos Estados Independentes (CEI), da qual a Ucrânia faz parte e na qual poderia ocorrer um eventual primeiro contato.

“Tudo depende da parte ucraniana, que em uma nota do Ministério das Relações Exteriores assegurou que tal encontro seria inaceitável”, assinalou, no entanto, a Chancelaria russa em comunicado .

Às sanções anunciadas pelos EUA e pela União Europeia, se uniu hoje o congelamento do processo de adesão da Rússia à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e uma séria advertência do G7, que entre outras coisas, exigiu nesta quinta-feira à Rússia iniciar um diálogo direto com Kiev.

Até agora, o ministro russo de Relações Exteriores, Sergei Lavrov, negou a se reunir com seu colega da Ucrânia, já que Moscou não reconhece como legítimas as autoridades surgidas em Kiev após a derrocada de Viktor Yanukovich.

Perante as crescentes e incessantes pressões da comunidade internacional, o presidente russo, Vladimir Putin, colocou ao Conselho de Segurança da Rússia a necessidade de revisar as relações de Moscou com o Ocidente

“Vamos pensar juntos sobre como enfrentar nossas relações com nossos parceiros e amigos na Ucrânia, e com nossos parceiros na Europa e Estados Unidos”, apontou o líder do Kremlin em reunião.

O referendo que será realizado no próximo domingo na Crimeia sobre sua reunificação com a Rússia está se aproximando e Moscou, que garantiu às autoridades da região autônoma a adesão do território, se vê cada vez mais criticada pelo resto do mundo, embora mantenha a esperança de que as sanções se limitem ao âmbito político.

“Estamos preparados para o que acontecer. Mas mantemos a esperança de que serão sanções políticas, e não um bloco mais amplo que afete as relações econômicas e comerciais”, disse hoje o vice-ministro de Economia russo, Alexei Lijachev.

Quem não pensa assim são os investidores, como demonstrou hoje a Bolsa de Moscou, que caiu para seus piores números em quase cinco anos e cujos dois índices se situaram em registros da dura crise econômica que assolou a Rússia em 2009, ano que concluiu com uma queda do PIB de quase 8%.

Algumas das empresas públicas mais importantes da Rússia acumulam perdas superiores a 20% de seu valor de mercado desde que o Senado russo autorizou em 1 de março a intervenção militar na Ucrânia.

Enquanto isso, as autoproclamadas autoridades da Crimeia “jogam para o alto” seu envolvimento com a Ucrânia e dão como certo que a península se integrará à Rússia antes que do final de março.

“O procedimento é o seguinte: a Crimeia vota no referendo, depois votam a Duma (Câmara dos Deputados) da Rússia, o Senado russo ratifica e o presidente (russo) promulga. Na Crimeia, esperamos que estas três ações não durem mais do que duas semanas”, disse o presidente do parlamento regional, Vladimir Konstantinov.

As autoridades da Crimeia já controlam as jazidas de petróleo e gás em suas águas territoriais dos mares Negro e Azov, da mesma forma que a companhia ucraniana que extrai estes hidrocarbonetos, a “Chernomorneftegaz”.

“As propriedades públicas que pertencem à Ucrânia como Estado passarão à propriedade da Crimeia, enquanto as propriedades privadas seguirão sendo privadas”, reiterou Konstantinov.

A Crimeia prepara-se para decidir no domingo em referendo se a população quer se unir à Rússia, da qual fez parte até 1954, ou permanecer na Ucrânia com um grau de autonomia maior do que o atual.

Na rebelde península, banhada pelo Mar Negro, vive quase 60% de russos, 25% de ucranianos e 12% de tártaros. EFE

aep/ff

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