Motoristas de ônibus se crucificam em protesto contra governo do Paraguai

  • Por Agencia EFE
  • 22/07/2015 17h07

Assunção, 22 jul (EFE).- O protesto iniciado há mais de 20 dias por motoristas de ônibus da região metropolitana de Assunção, capital do Paraguai, chegou nesta quarta-feira à sede do Ministério do Trabalho, onde quatro trabalhadores foram “crucificados” para exigir o cumprimento de seus direitos laborais.

Os quatro novos crucificados, que elevam para 18 o número de trabalhadores que decidiram tomar esta ação extrema, chegaram de madrugada ao Ministério, onde seus companheiros pregaram suas mãos em cruzes de madeira e as colocaram sob uma tenda, onde permanecerão até que as autoridades apresentem uma solução.

Outros dois motoristas os apoiaram no protesto inserindo pregos em seus próprios lábios.

Com o protesto de hoje, o grupo de “crucificados” se divide entre os quatro posicionados em frente ao Ministério e outros 14, entre eles duas mulheres, que permanecem há 21 dias em frente à sede da empresa de ônibus La Limpeña, na cidade de Limpio, na região metropolitana de Assunção.

Os motoristas exigem a readmissão de 51 pessoas demitidas pela direção da empresa, que é responsável pela linha que liga Limpio a Assunção e pertence a um deputado.

De acordo com os trabalhadores, a empresa, que conta com cerca de 100 motoristas, os demitiu porque eles estavam tentando fundar um sindicato de motoristas.

“Queremos a readmissão dos 51 companheiros despedidos de forma injustificada e que deixem de violar nossos direitos”, disse à Agência Efe Juan Villalba, titular da Federação Paraguaia de Trabalhadores do Transporte (Fepatrat).

Um dos que perderam o emprego é Esteban Álvarez, motorista de 28 anos que hoje foi crucificado em frente ao Ministério do Trabalho. Ele contou à Efe que tomou essa decisão porque “não aguentava mais a pressão da empresa”.

“Não podíamos dialogar com eles, nos tratavam como animais. Tentamos nos unir e, por causa disso, nos despediram. Primeiro foram dez e, depois, os restantes”, afirmou Álvarez.

Os participantes do protesto tacharam de “desumanas” as condições trabalhistas na empresa, alegando que são obrigados a cumprir de 16 a 18 horas diárias de jornada, que não têm suas férias respeitadas e, além disso, não recebem o pagamento de gratificações e outras prestações sociais. Por isso, os motoristas querem que o Ministério do Trabalho intervenha na empresa.

O deputado Celso Maldonado, que é o dono da empresa, reconheceu hoje, em entrevista à emissora de rádio “Uno” que demitiu dez trabalhadores e não pensa em readmití-los, mas garantiu que os outros 41 abandonaram o trabalho por decisão própria.

Além disso, Maldonado declarou que está disposto a dialogar com os trabalhadores, “mas não com o sindicato”, em referência à Fepatrat.

“Eu me preocupo com sua situação, mas o que posso fazer?”, disse o deputado, filiado ao Partido Liberal e que representa a cidade de Luque, uma das que fazem parte da região metropolitana de Assunção.

Maldonado insistiu que os trabalhadores só querem desprestigiar sua empresa e sua figura política, assim como a de sua filha, Belém Maldonado, que concorrerá ao cargo de vereadora na cidade de Limpio, vizinha a Luque, nas eleições municipais de novembro.

O protesto foi criticado hoje em uma entrevista coletiva pelo ministro do Trabalho, Guillermo Sosa, que o considerou uma “chantagem social”. EFE

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