“Mozart do xadrez” é ídolo pop e jogador de futebol na Noruega

  • Por Agencia EFE
  • 24/11/2014 11h10

Copenhague, 23 nov (EFE).- O norueguês Magnus Carlsen, que hoje voltou a se sagrar campeão mundial de xadrez e que é comparado com Mozart por sua genialidade e precocidade, é um ídolo em seu país, que trouxe a este esporte o “glamour” da cultura pop.

O antes chamado menino prodígio do xadrez, que agora está prestes a completar 24 anos, participou de campanhas publicitárias para uma grife junto com a atriz Liv Tyler e tem acordos de patrocínio com várias empresas. Calcula-se que eles lhe proporcionem cerca de 1,2 milhão de euros por ano.

Os elogios a seu talento para o xadrez, que Gary Kasparov definiu como uma mistura de Anatoli Karpov e Bobby Fischer, convivem com os rótulos de ídolo juvenil e criador de tendências. Já a revista “Cosmopolitan” o elegeu um dos homens mais sexy do mundo, e a “Time” o colocou entre as cem pessoas mais influentes.

De Karpov ele tem a compreensão teórica do jogo e um grande repertório de aberturas. De Fischer, um espírito aventureiro e lúdico que o leva a continuar jogando – e inclusive a ganhar – partidas que parecem perdidas como no ano passado, com sua quinta vitória sobre o indiano Viswanathan Anand na luta pelo título mundial.

Em seu país, Carlsen é um herói nacional à altura de Petter Northug e Marit Bjørgen, ícones do esqui nórdico, o esporte mais popular no país.

Quando não está diante de um tabuleiro, Carlsen gosta de passar tempo com a família e os amigos, ou jogar futebol, uma de suas maiores paixões. Além de melhor enxadrista do mundo, ele é lateral-esquerdo do Fremad Famagusta, equipe que acaba de subir para a quinta divisão norueguesa. O time não perdeu tempo e, no Twitter, já o parabenizou pela conquista deste domingo.

A “febre” do xadrez na Noruega explica por que a rede de televisão estatal “NRK” transmitiu ao vivo seus duelos com Anand e o fato de estes terem alcançado uma audiência similar à do esqui nórdico e sensivelmente superior às partidas da seleção de futebol do país.

Nascido em Tønsberg, nos arredores de Oslo, Sven Magnus Øen Carlsen ganhou seu primeiro tabuleiro de seu pai Henrik, um engenheiro apaixonado por xadrez. Ele o ensinou a jogar aos cinco anos, quando o menino já tinha dado mostras de sua capacidade de memorização citando, por exemplo, os nomes e a população das 430 cidades da Noruega.

Mas o pequeno Carlsen não mostrou especial interesse ou aptidão para o xadrez, até que, dois anos depois, quando viu seu pai jogar com sua irmã mais velha, Ellen, despertou seu lado competitivo e começou a se voltar ao jogo e a estudá-lo por conta própria.

Em seu formação como enxadrista, o uso de computadores e bancos de dados foi tardio e, para ele, relativamente secundário.

“Utilizo o computador para a análise, mas acho que há coisas que só são vistas diante o tabuleiro”, disse certa vez em uma entrevista à revista alemã “Die Zeit”.

Sua evolução foi meteórica. Em 2003, a família tirou um ano sabático para viajar pela Europa e acompanhá-lo nos principais torneios (assim como Henrik e Ellen no Mundial que ele acaba de conquistar). No ano seguinte, se estabeleceu na elite mundial e, com 13 anos e 4 meses se tornou o segundo grande mestre mais jovem da história até então.

Um mês antes, em um torneio de partidas rápidas em Reykjavik, foi capaz de derrotar Karpov e empatar com Kasparov minutos depois de ser visto lendo uma história em quadrinhos do Pato Donald.

Sua trajetória esteve marcada pela excelência: com 15 anos era um dos cem melhores do mundo; aos 17, entrou no “top 10”, e desde janeiro de 2010 foi o número um, exceto em curtos intervalos.

Após bater no começo de 2013 o recorde de pontuação ELO de Kasparov com 2.849 pontos, Carlsen derrotou meses depois em Londres o russo Vladimir Kramnik, ex-campeão mundial e seu ídolo, em uma final dramática que o deixou exausto por ter tido problemas com o relógio.

A conquista do Mundial há um ano culminou a ascensão meteórica de Carlsen, que voltou a mostrar neste domingo que é o melhor, apesar de desta vez ter dado algumas mostras de nervosismo e até ter dado a impressão de ter “cochilado” em uma das partidas com Anand.

O norueguês costuma explicar seu sucesso argumentando que nunca perdeu a alegria pelo xadrez, no qual admite pensar “quase o dia todo”. EFE

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