MST pede ajuda do papa em campanha contra transgênicos

  • Por Agencia EFE
  • 06/08/2014 20h28

Brasília, 6 ago (EFE).- O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) divulgou nesta quarta-feira uma carta enviada ao Vaticano com o respaldo de um grupo de cientistas em que pede ao papa Francisco apoio na campanha contra o cultivo transgênicos no país.

Na carta, assinada por oito cientistas de seis países, é feito o pedido para que o pontífice exija do governo brasileiro a suspensão de todas as licenças ambientais concedidas para o cultivo de transgênicos. O Brasil é considerado o segundo maior produtor de transgênicos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

A carta foi apresentada em entrevista coletiva hoje em Brasília por João Pedro Stédile, principal dirigente do movimento, e pelo bispo dom Leonardo Steiner, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que a recebeu e se comprometeu em remetê-la ao Vaticano.

Há vários anos, os sem terra lideram uma campanha contra os transgênicos por considerar que podem provocar danos à saúde e ao meio ambiente, além de fortalecer os grandes agricultores que se dedicam às monoculturas para a exportação com recursos para comprar as sementes modificadas.

“As patentes de formas de vida e processos vivos deveriam ser proibidas porque ameaçam a segurança alimentar, promovem a biopirataria dos conhecimentos indígenas e dos recursos genéticos”, diz a carta assinada pelos cientistas.

Eles alegam que os perigos dos transgênicos para a biodiversidade e para a saúde humana já são reconhecidos pelos governos dos Estados Unidos e do Reino Unido.

O MST afirma que os setores do governo responsáveis pelo estudo e a aprovação das autorizações para o cultivo dos transgênicos tendem a favorecer às multinacionais que oferecem as sementes geneticamente modificadas sem as avaliações necessárias sobre as consequências sociais, econômicas, políticas e ambientais destas tecnologias.

Segundo o especialista em biossegurança Rubens Onofre Nodari, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a carta menciona os resultados de vários estudos mundiais que alertaram sobre os perigos dos transgênicos.

“No âmbito público, o debate sobre transgênicos se tornou muito restrito. Se conseguirmos que a Igreja se envolva, quem sabe possamos sensibilizar outros setores da sociedade em razão das grandes ameaças que esses organismos trazem. Ameaças não só relacionadas aos aspectos sociais e econômicos, mas também do ponto de vista científico”, afirmou Nodari ao justificar o envio da carta ao papa.

Ele acrescentou que, apesar da falta de consenso entre a comunidade científica sobre a periculosidade dos transgênicos, nos últimos anos, aumentou o número de estudos independentes que demonstram os riscos e efeitos contrários.

“Sabemos que o santo papa está muito interessado nessas questões. Certamente, se conversando com os cientistas, ele perceber a importância do valor ético da questão e a necessidade de dar uma palavra sobre a questão, ele a dará. Não há dúvida disso, pois ele é uma pessoa que tem posições e que tem destacado que a economia não pode se sobrepor à pessoa humana”, disse o secretário-geral da CNBB ao receber a carta.

Ele acrescentou que pode discutir o assunto com o pontífice na visita que realizará ao Vaticano em setembro. Além de Rubens Onofre Nodari, a carta foi assinada por nomes como o da engenheira agrônoma austríaca Ana Maria Primavesi; pelo especialista em biologia celular argentino Andrés Carrasco; pela doutora em genética molecular mexicana Elena Álvarez-Buylla Atritos, pelo investigador canadense Pat Mooney, e pela física e filósofa indiana Vandana Shiva, entre outros. EFE

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