Muçulmanos britânicos são convocados a votar para combater a islamofobia
Judith Mora.
Londres, 25 abr (EFE).- O Conselho Muçulmano Britânico (CMB) pediu que a população muçulmana do Reino Unido vote nas eleições gerais de 7 de maio e pressione seus candidatos a promover medidas contra o racismo “em todas suas formas” e a islamofobia.
Em uma guia eleitoral, o CMB, que agrupa mais de 500 organizações islâmicas, ressalta que o direito ao voto “não é um luxo, mas uma necessidade” e lembra que, se expressando nas urnas, os muçulmanos poderão “deter o avanço dos partidos de direita radical racistas e islamofóbicos”.
“Os partidários destas formações são mais propensos a emitir seu sufrágio para assegurar sua posição”, diante da histórica falta de participação da minoria muçulmana, adverte o Conselho.
Com 2,8 milhões de pessoas, os muçulmanos representam quase 5% da população total do Reino Unido, concentrando-se nas grandes cidades como Londres e Birmingham e nos antigos centros industriais do norte.
Do total do coletivo, 47% são nascidos no país e 68% são de origem asiática, com 33% da população menor de 15 anos, contra 19% em nível nacional.
O que têm em comum os muçulmanos de países como Paquistão, Bangladesh, Nigéria, Bósnia e Somália, além da religião, é o fato de residirem nas áreas mais empobrecidas do país, de seus filhos não quase não terem acesso à educação superior e de morar em imóveis sociais.
Além disso, todos são “demonizados”, como se fossem “um só bloco”, pelos recentes casos de jihadismo e dos atentados de extremistas islâmicos, “embora esses atos não tenham nada a ver com o islã”, ressaltou à Agência Efe o codiretor do Instituto Muçulmano, Hassan Mahamdallie.
“A primeira coisa que tem que ser feita para mudar o Reino Unido é ver os muçulmanos como parte da população geral”, opinou Mahamdallie, cuja organização promove o diálogo entre os muçulmanos e toda a sociedade.
“A religião é só parte de sua identidade e, como o resto do eleitorado, são afetados pelas circunstâncias, que no caso deles, é a de pertencer à classe trabalhadora, a minorias étnicas, sofrer mais com saúde do que a média e experimentar mais desemprego e racismo”, enumerou, referindo-se às estatísticas.
Em geral, as minorias étnicas britânicas, principalemnte caribenhos e asiáticos, chegaram ao Reino Unido, como a outros Estados europeus, como mão-de-obra barata para reconstruir o país depois da Segunda Guerra Mundial, o que definiu seu perfil social.
“Tradicionalmente votaram no Partido Trabalhista, que identificam como integrador e com consciência social, enquanto os conservadores têm um conhecido histórico de xenofobia”, destacou Mahamdallie.
Com exceção de 2005, depois que o primeiro-ministro Tony Blair apoiou o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, na guerra do Iraque, Rafik Mohammed sempre votou no Partido Trabalhista, liderado hoje por Ed Miliband.
Este técnico em informática de 40 anos, empregado em uma ONG, continua desconfiando da política externa britânica, “que insiste em intervir em países muçulmanos”, mas quer dar “uma oportunidade ao novo líder”, explicou.
Na porta de um colégio de Tower Hamlets, o distrito londrino com maior população muçulmana e um dos mais pobres do país, um grupo de mães somalis comentou à Agência Efe que elas também votarão no Partido Trabalhista.
“É o partido das famílias e da tolerância”, justificou com seu inglês básico Asha Moussa, que chegou à Inglaterra como refugiada aos nove anos e agora, aos 31, é mãe de seis filhos.
Por sua vez, Horia Akhamich, marroquina criada na Grã-Bretanha, apoiará o partido porque “defende a classe trabalhadora” e não levará em conta as medidas contra o terrorismo islamita “porque isso não tem a ver conosco, os extremistas são uma minoria e têm motivos políticos”.
Já as prioridades de Nazima Begum, uma bengalesa de 30 anos nascida em Tower Hamlets e mãe de uma menina incapacitada, são a educação e a saúde, que com os conservadores de David Cameron “sofreu muitos cortes”.
O sistema eleitoral britânico, em que ganha apenas um deputado por circunscrição, favoreceu no último século o bipartidarismo de conservadores e trabalhistas, o que neste pleito pode mudar com o avanço de formações minoritárias, entre eles o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), contrário à imigração.
O CMB calcula que, das 650 circunscrições eleitorais, pelo menos 40 dependem do voto muçulmano, motivo pelo qual pede ao coletivo que compareça às urnas “para defender a diversidade cultural e religiosa do Reino Unido”. EFE
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