Mudança em protocolo pode restringir tratamento a bebês com microcefalia

  • Por Carolina Ercolin/Jovem Pan
  • 09/03/2016 17h03
Pequena Manuelly EFE/ Antonio Lacerda Imagens de zika

Ao mudar pela segunda vez o protocolo de microcefalia, o Ministério da Saúde se aproxima dos padrões da Organização Mundial da Saúde, mas pode restringir o tratamento de bebês afetados no Brasil.

De acordo com o novo critério, recém nascidos com cabeça menor que 31,9 centímetros para meninos e 31,5 cm para meninas devem ser diagnosticados com a anomalia associada ao zika vírus.

Mas essa medida vem mudando. Já chegou a ser 33cm no ano passado e, mais recentemente, 32cm.

Na prática, a neurologista pediátrica Ana Van Der Linden, que atende mais de 200 casos em um centro de referência de Recife, a redução do padrão deixará criança doente sem respaldo médico por causa de 1 milímetro. “Quando a gente escolheu 33 centímetros, a gente sabia que 33 centímetros não era microcefalia. Mas foi para a gente ter a notificação de um número grande e a gente conseguir examinar e ver o que tinha de anormal e colocar esses meninos no protocolo”, afirmou.

E, ao ficar fora do protocolo, a criança perde o direito de ter todos os exames e estímulos disponíveis que vão garantir um desenvolvimento neurológico mais apropriado.

A mudança também não leva em conta outros fatores. Inclusive uma sutileza: a falta de precisão da fita métrica. “Porque a fita tem que passar em cima da sobrancelha. Esses meninos não tem testa, não tem osso frontal. Então o que vai acontecer é que quando você coloca a fita ela não se ajusta direito. Então uma variação de 31,9 centímetros para 32 centímetros vai escapar muita gente”, explicou a neurologista pediátrica.

Isso sem contar que, depois da morte, a microcefalia é o que de mais grave pode acontecer com o bebê. Mas há inúmeras outras anomalias que o zika vírus pode provocar no feto, ressaltou o obstetra e professor da Unifesp Antonio Fernandes Moron.

“Nós temos que não ser simplistas e achar que a doença é só microcefalia. A doença pode ser muito mais que isso e ter um espectro de expressão na criança em função da agressão durante a vida intrauterina. E estamos só,olhando a ponta do iceberg que é a microcefalia. Esse entendimento equivocado é ruim”, destacou.

Abaixo da ponta do iceberg, por exemplo, temos a Síndrome de Guillain-Barré, a hidrocefalia, catarata, convulsões, surdez. Para o infectologista Artur Timerman, não é hora do Governo discutir miudezas. “Eu diria que isso é secundário. Só gera mais confusão e estamos em um momento que precisamos ter uma padronização. A padronização é importante”, disse.

Mudanças de parâmetros também geram, por consequência, diferentes resultados nos balanços oficiais do Ministério da Saúde que, por sua vez, embasam ações de políticas públicas.

Sendo assim, pela segunda vez desde o início das investigações sobre microcefalia, governos e autoridades de saúde precisarão rever suas estratégias.

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