Mujica defende esquerda pragmática em palestra no Banco Mundial

  • Por Agencia EFE
  • 14/05/2014 21h35

Teresa Bouza.

Washington, 14 mai (EFE).- O presidente do Uruguai, José Mujica, defendeu nesta quarta-feira, em palestra no Banco Mundial (BM), uma esquerda pragmática, com políticas de distribuição de renda, mas também com incentivos ao investimento privado e ênfase na melhora da produtividade.

O governante mencionou que esse pragmatismo deu resultados em seu país, que tem a melhor renda per capita da América Latina, tendo saltado de pouco mais de US$ 6 mil para US$ 17 mil nesta década. E ele enfatizou que pretende aumentar esse valor para US$ 25 mil no futuro.

“A política de princípios é que o povo viva melhor. Esse é o grande princípio”, afirmou.

Mujica disse que previsões apontam que o Uruguai crescerá entre 4% e 4,5% neste ano, um dado positivo em momentos nos quais “há um certo congelamento” na região. Além disso, ele destacou que o crescimento econômico do país nesta década esteve “deliberadamente acompanhado” de uma política de distribuição de renda e insistiu que o primeiro termo dessa divisão “se chama salário”.

“Não é a única coisa, mas é a fundamental”, afirmou Mujica em sua primeira visita oficial a Washington, que nesta semana incluiu uma reunião na segunda-feira com o presidente Barack Obama na Casa Branca, assim como um encontro com o secretário de Estado, John Kerry, na terça-feira, e que termina amanhã com um ato na Organização dos Estados Americanos (OEA).

O presidente uruguaio apontou que o salário real subiu 54% durante esta década e lembrou que 75% dos gastos públicos são destinados a políticas sociais.

“Favorecemos o investimento porque era o ponto fraco dos últimos 50 anos da economia uruguaia. Investíamos muito pouco”, disse o ex-guerrilheiro tupamaro em um evento no qual esteve acompanhado pelo vice-presidente do BM+ para a América Latina, Jorge Familiar.

O presidente do Uruguai declarou que facilitou tanto o investimento estrangeiro direto como os investidores nacionais que reinvestiam, algo que, disse, lhe gerou críticas.

Mujica citou, nesse sentido, as críticas de que os investidores estrangeiros levavam lucros para fora do país e insistiu que o primordial é a mobilização salarial que isso provoca.

Para continuar melhorando, disse, o Uruguai precisa de mais gente com formação técnica e também mais investimento em infraestruturas. O outro grande desafio, segundo ele, é o envelhecimento da população, por isso será necessário, opinou, multiplicar a produtividade.

O governante pediu que sua figura seja desmistificada e que não seja comparada à do líder sul-africano Nelson Mandela, preso como ele por motivos políticos, mas de quem disse “jogar em outra divisão” porque “quebrou barreiras”.

“Não sou Mandela. Sou o Pepe, um rapaz de bairro. Pedi um jogo e me calhou jogar esta partida”, afirmou Mujica.

O ex-guerrilheiro, que passou 14 anos na prisão durante a ditadura que governou seu país entre 1973 e 1985, disse que, se esteve muitos anos atrás das grades, não foi por ser um herói, mas porque o “agarraram”.

Ele incentivou os jovens que assistiram à palestra a manter o espírito de luta: “Derrotados”, disse, “são os que deixam de lutar”.

“Não me estou referindo à política. Estou me referindo a todas as armadilhas da vida e que se apresentam em qualquer circunstância”, acrescentou. EFE

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