Mujica diz que Brasil deve assumir responsabilidade na integração da região
Porto Alegre, 10 set (EFE).- O presidente do Uruguai, José Mujica, insistiu nesta quarta-feira em Porto Alegre de que o Brasil “tem que pagar o jantar” da integração latino-americana e assumir a “responsabilidade” imposta por sua importância política e seu poderio econômico regional.
“Haverá uma América Latina unida se o Brasil fizer” desse objetivo uma tarefa, disse Mujica em um ato realizado na sede do governo regional do Rio Grande do Sul.
“Mas se o Brasil não colocar isso como meta, não vai nos dar combustível” para avançar rumo a uma “autêntica” integração latino-americana, declarou o presidente do Uruguai, junto ao governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro.
“Há muito por fazer em nossa América e o Brasil viveu muito tempo olhando para si mesmo, igual a cada uma de nossas repúblicas, que olhavam para Europa ou Estados Unidos e davam as costas a sua história independente”, sustentou.
“Mas este é o tempo de nos acostumarmos a olhar entre nós mesmos”, acrescentou Mujica, que insistiu no papel de liderança que o Brasil deve assumir no processo de integração.
“O Brasil é um dos países mais ricos em recursos naturais do planeta” e o Uruguai decidiu “viajar no estribo do Brasil, não para ajudá-lo, mas para atuar como ajuda de memória e recordá-lo do papel que tem que cumprir”, insistiu.
Segundo Mujica, a América Latina tem que “recriar sua civilização comum”, com “o coração na Amazônia”, e avançar rumo à “unidade” para “se defender” e progredir.
“O primeiro cliente do Brasil é a China. Mas também é do Uruguai, do Paraguai, da Argentina” e “não nos damos conta de que há um único caminho, que é estar cada vez mais perto”, declarou o presidente do Uruguai.
Mujica também reiterou suas críticas ao consumismo e assegurou que assim como o mundo “progride muito” e os cidadãos têm “cada vez mais geladeiras, automóveis, celulares e tiram mais fotos”, ainda têm “a injustiça dando voltas”.
O presidente disse, além disso, que os governantes devem entender “o mundo em que vivem”, que já não é e nem será aquele em que se “formaram e educaram”.
“O Estado nacional que conhecemos começa a entrar em crise e dentro de 30 anos, todos os jovens falarão inglês e vão pertencer a uma civilização de caráter universal”, vaticinou.
“Os jovens hoje vivem na internet, têm amigos em Pequim ou em Nova York e não os conhecem, mas eu sou do livro. Se não escrevo não penso”, declarou Mujica.
Durante a reunião com o governador Genro, Mujica esteve acompanhado pelo ministro das Relações Exteriores, Luis Almagro, e outros funcionários de seu governo, que discutiram fórmulas para estreitar a cooperação ao longo dos 985 quilômetros de fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai.
No mesmo marco foi assinado um convênio mediante o qual ocorrerá em caráter anual uma feira da cultura do Rio Grande do Sul no Uruguai e outra sobre as tradições uruguaias nessa região do sul do Brasil.
Mujica chegou a Porto Alegre na manhã de hoje e sua primeira atividade foi uma visita a uma cooperativa de reciclagem de resíduos plásticos e latas de alumínio.
Após seu encontro com Genro, o presidente deve participar de um seminário sobre Desenvolvimento Sustentável para a Integração do Cone Sul, organizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e depois voltará a Montevidéu. EFE
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