Mulher ganha espaço no mundo agrário, mas ainda sofre desigualdade
Belém Delgado.
Roma, 6 mar (EFE).- A mulher ganhou nas últimas décadas maior participação no setor agrário, onde já representa quase a metade da mão-de-obra, mas ficou para trás nas questões de desenvolvimento e ainda sofre uma forte desigualdade com relação ao homem, destacaram à Agência Efe especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em virtude do Dia Internacional da Mulher, lembrado no próximo domingo, as agências da ONU com sede em Roma organizaram nesta sexta-feira um ato para homenagear as agricultoras que desempenham um papel crucial para garantir a alimentação e para que a igualdade entre os sexos contribua para reduzir a pobreza no campo.
Exposições sobre a desnutrição de grávidas em uma aldeia de Bangladesh, a obtenção de títulos de terra pelas mulheres no Níger ou a associação de centenas delas em regiões rurais de Madagascar serviram de exemplo para explicar a situação.
Nos 20 anos que passaram desde a declaração adotada por 189 países na IV Conferência Mundial sobre a Mulher, em Pequim, houve “grandes avanços no desenvolvimento”, mas o progresso foi “muito pouco” para a mulher do campo, considerou Marcela Villarreal, diretora do Escritório de Associações da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Em declarações à Efe, ela lamentou que, em um mundo onde o avanço tecnológico permitiu que 3 bilhões de pessoas usassem a internet, na África Subsaarianas, somadas, as mulheres ainda gastam 40 bilhões de horas por ano caminhando para coletar água, algo que poderia ser evitado com soluções básicas.
Porém essa carga de trabalho, de grande esforço físico, complementar aos trabalhos domésticos, “não é vista como uma prioridade pelos governos e que tem um custo econômico gigante para um país”, opinou. Segundo ela, as mulheres do campo estão atrás das que vivem nas cidades e dos homens em geral em todos os indicadores de desenvolvimento.
Frente a essa desigualdade em um setor cada vez mais feminizado como é o primário, a especialista insiste em que o empoderamento econômico feminino representa melhoria na nutrição e na educação da família, e um benefício social que repercute na comunidade e nos respectivos países.
As mulheres rurais seguem sendo “invisíveis” para alguns governantes, muitos dos quais não possuem qualquer vínculo com o campo.
Sobre isso, a diretora-executiva do Programa Mundial de Alimentos da ONU, Ertharin Cousin, disse hoje na conferência de Roma que para que a mulher tenha voz para dizer como alimentar os filhos, ela não pode estar fechada dentro de casa.
Dados das Nações Unidas revelam que o rendimento das mulheres no campo é até 30% inferior ao dos homens, que têm mais acesso a sementes, adubos e equipamentos. Estima-se que dar mais recursos às agricultoras poderia fazer com que entre 100 e 150 milhões de pessoas deixassem de passar fome no mundo. EFE
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