Mulher se une a crucificados por reivindicações trabalhistas no Paraguai

  • Por Agencia EFE
  • 16/12/2014 16h49

Assunção, 16 dez (EFE). – Uma mulher de 52 anos foi pregada nesta terça-feira em uma cruz de madeira em solidariedade aos três ex-funcionários da Usina Hidrelétrica de Itaipu que já estão fazendo o mesmo ato há uma semana na frente da embaixada do Brasil, em Assunção, em protesto por benefícios trabalhistas que afirmam não receberem desde a construção da represa.

Rosa Cáceres, a nova crucificada, é esposa e mãe de dois ex-empregados que trabalharam durante cinco anos na hidrelétrica, a maior do mundo e compartilhada por Brasil e Paraguai. Ela afirma que deixou seus nove filhos em Ciudad del Este, a cerca de 370 quilômetros da capital, para acompanhar os três manifestantes e os demais companheiros que os apoiam. O grupo já protesta há quatro meses em uma tenda em frente à embaixada brasileira, no centro da capital paraguaia.

Após se benzer, e usando um vestido com as cores branca, vermelha e azul, as da bandeira do Paraguai, Rosa teve dois longos pregos cravados em sua mão por Teodorico Franco, ex-trabalhador da represa e encarregado dessa tarefa. Enquanto isso, o trio crucificado, Roberto González, de 61 anos; Roque Samudio, de 58; e Gerardo Orué, de 49, cantava músicas religiosas em homenagem a Nossa Senhora que foi colocada em um pequeno altar próximo ao local.

“Sinto muito dor, mas não pelos pregos e sim por estar em um país tão bom, como o Paraguai, e ter de passar por isto para pedir por nossos direitos”, declarou Rosa à Agência Efe.

Na base da cruz na qual permanecerá há a mensagem: “Vencer ou morrer”. Alguém acrescentou: “A mulher paraguaia vencerá”.

Os três que já estão no local não comem e tomam apenas soro e suco de cenoura para diminuir a desidratação. Eles podem permanecer deitados e sem movimentos bruscos.

O grupo reivindica direitos trabalhistas de um convênio assinado em 1974 pelos governos, então ditatoriais, do Brasil e do Paraguai. Estima-se que o montante acumulado por estes incentivos seja de 3.523.500 guaranis (cerca de R$ 2.087) por trabalhador e mês trabalhado, detalhou à Efe Carlos González, porta-voz da Coordenadoria Geral dos Ex-trabalhadores de Itaipu e Terceirizados.

“Muitos dos que estão protestando aqui são pessoas da terceira idade. Já não lutam por um tema econômico, mas para que se respeitem os direitos trabalhistas”, explicou González.

Ele lembrou que as mobilizações na represa já fizeram duas vítimas, Hermenegildo Benítez e Germán Cardozo. Eles morreram durante a reposta policial da segunda greve de Itaipu, em 12 de dezembro de 1989.

“Os companheiros que agora estão crucificados também estão oferecendo suas vidas. O problema não são os pregos, mas a pressão emocional que suportam”, explicou.

O porta-voz acrescentou que o estado de espírito dos manifestantes pode desencadear problemas cardíacos ou AVCs.

“Estamos muito perto do fim de ano. É uma época para estar com a família. Tomara que já recebamos uma resposta e não tenhamos que passar nosso terceiro Natal nessas tendas”, expressou.

Caso contrário, não faltam novos candidatos para se juntarem a crucificação.

Angelina Carballo, de 72 anos e ex-funcionária do viveiro florestal de Itaipu, adiantou à Efe que será “a próxima a se crucificar” se os funcionários não receberem uma resposta as suas reivindicações nos próximos dias.

msd/cdr

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