Multidão silenciosa marcha na Argentina um mês depois da morte de Nisman

  • Por Agencia EFE
  • 18/02/2015 23h08

Buenos Aires, 18 fev (EFE).- Centenas de milhares de pessoas marcharam em silêncio e sob uma chuva torrencial nesta quarta-feira em Buenos Aires para homenagear Alberto Nisman, um mês depois da morte do promotor, encontrando com um tiro na cabeça em sua casa quatro dias após denunciar à presidente da Argentina, Cristina Kirchner.

A mobilização, na qual participaram cerca de 400.000 pessoas, segundo fontes da Polícia Metropolitana consultadas pela Agência Efe, transcorreu entre o Congresso e a Praça de Maio, em frente à sede do Executivo argentino, convocada por promotores e com a presença da juíza Sandra Arroyo Salgado, ex-esposa de Nisman, e sua filha mais velha.

A grande marcha, que foi reproduzida em vários pontos do interior do país e no exterior, teve como objetivo homenagear Nisman, que investigava o ataque terrorista de 1994 contra a associação mutual judaica Amia e foi encontrado morto em 18 de janeiro.

Sob uma maré de guarda-chuvas, sem distinções partidárias e com várias bandeiras argentinas, a passeata foi puxada por um cartaz preto, levado pelos promotores, com a lenda “Homenagem ao promotor Nisman”.

O silêncio dominou a mobilização, só quebrado com longos aplausos, os gritos de “Argentina, Argentina”, “Justiça”, “Nunca mais” e o hino nacional.

Não houve discursos nem declarações e os líderes de oposição que participaram, como os pré-candidatos presidenciais Sergio Massa, Hermes Binner, Julio Cobos, Ernesto Sanz e Mauricio Macri, mantiveram a discrição.

Apenas no final da marcha, que transcorreu sem incidentes, tomou muito brevemente a palavra o secretário-geral do sindicato de trabalhadores judiciais, Julio Piumato, que pediu um minuto de silêncio à multidão aglomerada na Praça de Maio.

Piumato falou da “dor” causada pela morte de Nisman e agradeceu a presença das “centenas de milhares” de argentinos que se reuniram para homenagear o promotor e apoiar sua família.

Nisman foi encontrado morto quatro dias após denunciar Cristina Kirchner e outros funcionários do governo por acobertar os iranianos acusados pelo ataque à Amia.

O dia de hoje evidenciou a polarização que vive a Argentina, com milhares de pessoas nas ruas enquanto, poucas horas antes, Cristina Kirchner liderava um ato transmitido por cadeia nacional no qual evitou referir-se à passeata, depois que dias atrás funcionários do Executivo criticaram a convocação por considerar que tinha um claro viés político em um ano eleitoral.

Nesta quarta-feira, no entanto, o governo evitou as críticas e, ao ser questionado sobre a manifestação, o chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, se limitou a dizer que na Argentina “há plena liberdade de expressão e reunião”.

Um mês depois da morte de Nisman, os investigadores se mostraram incapazes de encontrar provas conclusivas para determinar se foi um suicídio ou um assassinato, embora as primeiras perícias tenham descartado a intervenção de terceiras pessoas.

Entre as novidades de hoje, a promotora que investiga a morte de Nisman, Viviana Fein, confirmou que tomou o depoimento de Antonio “Jaime” Stiuso, ex-diretor de operações da Secretaria de Inteligência da Argentina e que colaborava com o Nisman no caso Amia.

Fein também informou que recebeu hoje o relatório completo da perícia toxicológica e parte das provas histopatológicas praticadas no corpo de Nisman, mas a promotora anunciou que não informará nem dos resultados das provas nem do conteúdo do depoimento de Stiuso “para preservar o curso da investigação”.

Até agora o único acusado no caso é Diego Lagomarsino, o técnico em informático que trabalhava com o promotor e que lhe entregou a arma que o matou e foi achada junto a seu corpo. EFE

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