Mundo enfrenta maiores desigualdades desde a Segunda Guerra Mundial
Mateo Sancho Cardiel.
Nova York, 29 jan (EFE).- O aumento da desigualdade desde 1990 devolveu o mundo aos níveis da época da Segunda Guerra Mundial, segundo afirma um relatório apresentado nesta quarta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
Segundo o relatório “Humanidade Dividida”, publicado após dois anos de trabalho, a desigualdade cresceu 11% nos últimos 24 anos e mais de 75% da população nos países em desenvolvimento vive em sociedades onde a renda é distribuída de maneira mais desigual que em 1990 e se aproxima dos números de 1945.
“Este relatório explora as causas e as consequências da desigualdade que nos divide entre os países e dentro dos países, e mostra como não há nada inevitável neste crescimento da desigualdade”, disse hoje a administradora do Pnud, Helen Clark, ao apresentar o documento.
Entre as causas desta situação, o relatório, cujo subtítulo é “Como fazer frente à desigualdade nos países em desenvolvimento”, indica que a mudança tecnológica da qual estão excluídos aqueles sem acesso à internet, e a globalização financeira e comercial, que, apesar de incluir muitos países emergentes na dinâmica dos mercados, tornou-os mais vulneráveis a sua volatilidade.
Em um mundo mais rico que nunca, mais de 1,2 bilhões de pessoas ainda vivem em situação de extrema pobreza e a distribuição da riqueza é tal que o 1% mais rico da população mundial possui cerca de 40% dos recursos do mundo, enquanto 50% da população possui 1% de todos os recursos.
No entanto, à margem de causas de contexto internacional, o Pnud destacou a importância da política interna de cada país, que tem em suas mãos a missão de dirigir a distribuição da riqueza por meio da legislação fiscal e a de acesso à saúde e educação.
Além disso, ressaltou que as desigualdades cresceram mais nos países que experimentaram um crescimento rápido que naqueles onde sua prosperidade econômica se desenvolveu de maneira mais paulatina.
Apesar destes números, o Pnud fez insistência nos avanços conquistados pela comunidade internacional e os trabalhos de cooperação ao desenvolvimento e assinalou que o Produto Interno Bruto per capita dos países de baixa e média renda aumentou mais que o dobro desde 1990.
Segundo a diretora de crescimento sustentável do departamento de pobreza do Pnud, Anuradha Seth, “não é necessário sacrificar o crescimento para conseguir a igualdade”, e assegurou que dos 24 países em desenvolvimento que cresceram acima da média mundial (cerca de 3%), em 11 deles se ampliou a brecha da desigualdade e em 13 se reduziu ou segue igual.
Seth quis distinguir entre a desigualdade de níveis de receita e educação e a desigualdade de oportunidades, que “estão íntima e proporcionalmente relacionadas, são as duas faces da mesma moeda, mas respondem a diferentes causas”, afirmou.
Em relação à diferença nos níveis de receita e educação, a região da África Subsaaariana, América Latina e Caribe a combateu com sucesso nos últimos 20 anos, diferente do leste da Europa, da Ásia Central e do Sudeste Asiático.
Quanto à desigualdade de oportunidades, relacionadas com o acesso a emprego, saúde e educação, o relatório assegura que, por exemplo, as mulheres que vivem em áreas rurais têm três vezes mais probabilidades de morrer durante o parto que aquelas que vivem em centros urbanos e 87% da brecha nas taxas de mortalidade infantil vem dada pela desigualdade na riqueza.
Nestas desigualdades, as marginalizações por gênero, etnia ou religião seguem tendo um peso importante, segundo o relatório.
“Podemos suportar a pobreza, a podemos assumir como parte de nosso destino. Mas não podemos tolerar a desigualdade em questão de direitos humanos e justiça social”, acrescentou o diretor do departamento de pobreza do Pnud, Selim Jahan. EFE
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