Aeroporto do Catar é acusado de submeter passageiras a exame íntimo

Depois que um recém-nascido foi encontrado no banheiro do aeropoto, todas as mulheres a bordo de um voo para Sidney tiveram que passar por um exame que o governo australiano considerou “grotesco”

  • Por Bárbara Ligero
  • 27/10/2020 16h05 - Atualizado em 27/10/2020 16h10
Spencer Wilmot/Flickr/CreativeCommons O avião da Qatar Airways ficou três horas sem poder decolar até que as mulheres foram inesperadamente obrigadas a desembarcar

No dia 2 de outubro, todas as passageiras mulheres que embarcaram em um voo da Qatar Airways de Doha para Sidney tiveram que passar por um exame íntimo antes de poder seguir viagem. O acontecimento veio à público depois que uma dessas mulheres, que preferiu não ter o nome completo divulgado, denunciou o Aeroporto Internacional de Hamad ao canal de notícias australiano Channel 7. Mais tarde, o episódio também foi reportado pelo jornal norte-americano The New York Times. Segundo a publicação, o avião ficou estacionado no aeroporto durante três horas, sem poder decolar, até que foi ordenado o desembarque imediado de todas as passageiras.

Saindo do avião, essas mulheres foram direcionadas a ambulâncias, onde tiveram que se despir completamente e se submeter a um exame médico invasivo. O objetivo, segundo as autoridades australianas, era se certificar de que nenhuma daquelas mulheres havia acabado de dar a luz à uma criança que fora deixada no banheiro do aeroporto, de onde partia o voo QR908. Segundo a mulher que reportou o caso à Channel 7, ela e outra passageira tiveram que deitar em uma mesa e tirar suas roupas íntimas em frente a uma janela que não possuía nenhum tipo de cobertura, enquanto pelo menos uma dúzia de homens esperavam do lado de fora. O procedimento teria levado entre 15 e 20 minutos.

Ao The New York Times, um porta-voz do aeroporto afirmou que os profissionais de saúde estavam preocupados com a saúde e o bem-estar de uma mulher que havia acabado de dar à luz e, por isso, pediram que ela fosse localizada antes de ter a chance de deixar o país. “Os indivíduos que tiveram acesso à área específica do aeroporto onde o recém-nascido foi encontrado foram solicitados a auxiliar na busca”, alegou. No entanto, nenhum outro voo passou por essa inspeção e o bebê permaneceu sem ser identificado.

O governo australiano considerou esse acontecimento “ofensivo, grotescamente inapropriado e além das circunstâncias em que as mulheres poderiam dar consentimento livre e esclarecido”. Por isso, está demandando respostas da companhia aérea e abriu uma investigação internacional. Esse tipo de exame pode ser visto pela justiça como uma forma de abuso sexual.

O episódio também lançou luz à forma como as mulheres são tratadas no Catar, conhecido pela sua disparidade de gênero e opressão contra o sexo feminino. No país, fazer sexo ou engravidar fora do casamento é considerado um comportamento ilegal que pode levar à prisão da mulher. O próprio chefe executivo da Qatar Airways, Akbar Al Baker, já foi acusado de machismo em 2018, quando afirmou que as mulheres eram incapazes de realizar o seu trabalho, que segundo ele, seria “muito desafiador”.

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