Pandemia dificulta plano da Arábia Saudita de atrair estrangeiros
No fim de 2019, a Arábia Saudita anunciou uma nova política de vistos de turismo para 49 países para fortalecer o setor e reduzir a dependência do petróleo. Mas, com a pandemia de coronavírus, a medida perdeu a eficácia e a meta de alcançar 100 milhões de visitantes em 2030 ficou mais distante.
O orçamento saudita também encolheu, com a queda dos preços do petróleo, o que fez o governo triplicar esta semana o imposto sobre consumo. As receitas com o turismo, principalmente durante o Ramadã, que termina no dia 23, diminuíram em razão da crise, de fronteiras fechadas, viagens canceladas e companhias aéreas paralisadas.
Segundo o World Travel and Tourism Council, o Oriente Médio deve perder 2,6 milhões de empregos e US$ 96,2 bilhões no setor de turismo em 2020. “Acreditamos que, neste ano, teremos um impacto de 35% a 45% de queda [no turismo]em comparação com o ano passado”, afirmou o ministro do Turismo saudita, Ahmed al-Khateeb.
No caso da Arábia Saudita, além de hotéis vazios e voos cancelados, o maior impacto se dá pela redução do turismo religioso. O país recebe em média 15 milhões de visitantes estrangeiros por ano, a maior parte deles muçulmanos em peregrinação. Como a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é manter o isolamento social para conter a Covid-19, os eventos muçulmanos que ocorrem com aglomerações de fiéis estão passando por adaptações ou sendo cancelados.
Neste ano, no lugar da habitual multidão, o que se vê nas imagens é um vazio perto da Caaba da Grande Mesquita de Meca, estrutura cúbica envolvida em um tecido preto bordado em ouro, para onde rezam os muçulmanos do mundo inteiro.
Bilhões de dólares vinham sendo injetados no reino como parte do plano do príncipe Mohamed bin Salman de atrair turistas. Parcerias com hotéis e projetos de desenvolvimento de determinadas regiões como Al-Ula, conhecida como a “Petra da Arábia Saudita” pelas atrações arqueológicas, deveriam expandir empregos e a quantidade de visitantes.
Segundo o governo, a estratégia estava funcionando. Nos primeiros nove meses de 2019, a ocupação dos hotéis foi 11,8% maior do que no mesmo período do ano anterior. Mas analistas afirmam que apenas investir no turismo pode não ser o suficiente para diversificar a economia.
“A dependência do petróleo só pode diminuir em função de um programa de investimentos no estilo dos fundos estatais noruegueses ou dos principados do Golfo. A extração é tão barata que é difícil encontrar uma alternativa para competir”, disse o professor de relações internacionais e especialista em Oriente Médio Samuel Feldberg.
Além disso, existe uma ressalva maior na hora de atrair turistas estrangeiros: a imagem do governo saudita. “O novo príncipe propõe mudanças radicais na sociedade, mas o que ele propõe se confronta com o assassinato de Khashoggi, por exemplo”, explica Feldberg, se referindo à morte do jornalista dissidente saudita Jamal Khashoggi no consulado em Istambul, em 2018. Até hoje, o papel de Bin Salman no caso continua sem resposta.
*Com Estadão Conteúdo
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.