Brasileiros invadem Portugal e formam maior comunidade imigrante do país; conheça os principais atrativos

Serviço de Estrangeiros registrou mais de 200 mil brasileiros em solo português; melhor condição de vida, fácil acesso e preocupação com baixa taxa de natalidade ajudam a explicar o fluxo

  • Por Sarah Américo
  • 24/04/2022 14h00
Frank Nürnberger Portugal Brasil tem a maior comunidade imigrante em Portugal

Portugal tem sido um dos destinos mais buscados por brasileiros que querem deixar o país. Segundo os dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteira (SEF), divulgados pela agência portuguesa Lusa, há seis anos cresce a quantidade de pedidos por residência, e o país já possui cerca de 210 mil brasileiros (dado de 2021). O resultado representa um aumento de 13,6% em relação a 2020. Esse é o maior número já registrado desde que a contagem começou a ser realizada. O Brasil está na liderança isolada como maior comunidade imigrante em território português, representando 29,2% de todos os estrangeiros em situação regular no país. Melhor condição de vida, estabilidade financeira, fácil acesso e a necessidade portuguesa em melhorar a taxa de natalidade têm sido as principais razões que fazem com que os brasileiros queiram se mudar para lá.

Morando há quatro anos em Portugal, a atriz Gabriela Oliveira escolheu o país pela facilidade de documentação. “Aqui é fácil se legalizar. Tem uma vasta lista de visto para imigrar legalmente”, explica ela, que foi para lá junto com o marido. Ele atualmente trabalha como governante em um hotel, mas começou lavando pratos. Outro motivo que se torna atrativo é a chance de conseguir nacionalidade portuguesa após cinco anos vivendo no país. Quem consegue ser aprovado, desfruta de várias vantagens como: poder viver em qualquer país da União Europeia, não precisar de visto para viajar aos Estados Unidos, Canadá e Japão, ter melhores possibilidades de estudo e pagar menos imposto.

Esse é o plano de Gabriela, que, apesar de amar o povo brasileiro, não deseja voltar. “Ano que vem começo a dar entrada na minha cidadania portuguesa. Assim que sair, devo ir para outro país da Europa.” Durante o tempo que está em Portugal, ela e o marido tiveram uma filha. Isso faz com que as vantagens dos dois aumentem. “A lei da nacionalidade portuguesa facilitou demais para que imigrantes que tenham filhos em Portugal obtenham a nacionalidade, exatamente porque precisam aumentar a taxa de natalidade e atrair mais imigrantes”, explica a atriz. Segundo o Instituto Nacional de Saúde, o número de bebês nascidos em Portugal registrou um mínimo histórico em 2021, em plena pandemia, e não chegou à marca de 80 mil pela primeira vez desde que os dados começaram a ser contabilizados.

Diferentemente de Gabriela, Breno Martins, que está há um ano no país, não tem planos de ficar por lá. “Pretendo voltar para o Brasil, mas só quando conseguir juntar dinheiro”, relata o jovem. Ele diz que, ao contrário do que a maioria dos brasileiros acham, não é tão fácil quanto se pensa ter uma estabilidade financeira. Martins fala que escolheu o país luso porque já tinha visitado o lugar achou que a experiência de turista e morador seriam iguais. “O imigrante quase nunca é acolhido pelos portugueses. É um povo muito preconceituoso.”

Martins foi sozinho para Portugal, mas lembrava de alguns conhecidos da primeira vez que passou por lá. Trabalhando como cuidador de uma criança — mas sem contrato assinado, tudo “apalavrado” —, ele relata que com o salário que recebe é possível se manter  em Portugal. Uma quantia significativa, segundo ele, que faz com que “você não passe dificuldade para comer”. Entretanto, o cenário é diferente quando se pensa em juntar dinheiro. Gabriela também destaca essa dificuldade. Apesar de ter se mudado para lá após ser contratada por uma empresa, hoje ela trabalha por conta própria, fazendo conteúdos nas redes sociais e ajudando outras pessoas que querem ir para Portugal. “O custo de vida é acessível. Mesmo o salário mínimo não sendo dos melhores, aqui não batalhamos pelo essencial. E isso traz paz”, conta. Lá , segundo ela, se tem acesso à comida, roupa e lazer, mas em algumas regiões os aluguéis são mais caros. Mas quem faz um planejamento detalhado e busca informações consegue achar um lugar bom, destaca a atriz. “A qualidade de vida é excelente.”

 

Os serviços de babá, garçonete e trabalho em obra são os mais comuns para quem quer encontrar emprego rapidamente. Gabriela diz que até quem está ilegal consegue alguma coisa. “Portugal precisa de mão de obra, então, geralmente, dependendo da região e da época do ano, sempre tem emprego”, comenta. “Eu sempre oriento e alerto para a importância de imigrar com o visto ideal, correto e, assim, amenizar os perrengues da imigração”, acrescenta. Contudo, a menos que você já vá empregado para o país em sua profissão de formação, não é tão fácil arrumar um emprego na área. Breno Martins atuava como técnico em mineração. Ele conta que a especialização realizada no Brasil não é válida em Portugal. “Muita gente vem para cá com curso superior em educação física, engenharia, enfermeira, mas ninguém consegue exercer. Tem que fazer uma equivalência e estudar no mínimo um ano pra validar o curso”, explica.

Aumento da xenofobia 

Apesar de todos os benefícios, nem tudo é um mar de rosa. A xenofobia é algo bastante presente em Portugal, e os brasileiros sentem isso na pele. Na última semana, a Universidade do Porto informou que demitirá um professor que chamou as mulheres do Brasil de mercadoria. Atos como esses são comuns e cada vez constantes. Gabriela fala que constantemente recebe comentários desrespeitosos em suas publicações. “As agressões geralmente são do tipo: ‘ninguém te quer aqui’, ‘volta para tua terra’, ‘brasileiros são ladrões e as mulheres são putas’.” Por outro lado, ela faz questão de ressaltar que não são todos que têm esse posicionamento. “Existem alguns portugueses que se acham superiores e pensam que estamos aqui para degradar o país roubar algo que é deles”, conta. “E algumas mulheres portuguesas acham que as brasileiras vão roubar-lhes os maridos.”

A atriz não fica calada diante das ofensas, mas também não age com brutalidade. “Eu rebato. Eu mostro a nossa importância, falo dos nossos direitos e deveres, mostro que contribuímos com o país e que, inclusive, é por esse motivo que Portugal abre as portas”, explica. Já Breno escolheu o silêncio. Apesar de ficar triste com as coisas que escuta, prefere ficar na dele. não é tão eficaz. Muitas vezes acionada, a Justiça portuguesa muitas vezes é ineficaz. Gabriela já fez denúncias na Polícia Judiciária, mas não teve retorno. “Até mesmo para fazer queixas na polícia, você ouve frases do tipo: ‘Isso não vai dar em nada’.”

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.