Carlos Ghosn foge da justiça do Japão e chega ao Líbano
O ex-presidente da Nissan Carlos Ghosn chegou a Beirute, capital do Líbano, após fugir do Japão, onde estava em liberdade sob fiança enquanto aguardava um julgamento que poderia acarretar uma longa pena nas prisões japonesas.
Ao justificar a fuga, que foi noticiada em Tóquio na madrugada desta terça-feira (31), Ghosn argumentou que no Japão estava diante de um “sistema de justiça parcial onde prevalece a presunção de culpa”.
“Não escapei da justiça, escapei da injustiça e da perseguição política”, disse o brasileiro em declaração enviada pela empresa francesa que já enviou comunicados em seu nome em outras ocasiões.
A fuga
Ghosn estava na própria residência em Tóquio e os passaportes que possui (brasileiro, francês e libanês) estavam com os advogados, uma das condições impostas pelo juiz que aprovou a libertação do empresário sob fiança em 25 de abril, no final da segunda prisão provisória.
O empresário foi preso pela primeira vez em 19 de novembro de 2018, liberado sob fiança em 6 de março, e novamente preso em 4 de abril, tudo em resposta a quatro acusações de irregularidades financeiras.
A movimentação do brasileiro em Tóquio estava restringida. Havia câmeras em frente à casa e o único acesso à internet era o escritório dos advogados. Ele também estava impedido de se comunicar com a família.
Mesmo assim, Ghosn, 65 anos, deixou o país com uma identidade falsa, segundo fontes citadas pela emissora pública “NHK”, e chegou ao aeroporto internacional de Beirute a bordo de um avião privado, embora não haja detalhes disponíveis sobre a rota que seguiu.
Ghosn nasceu no Brasil, recebeu parte da educação no Líbano e se desenvolveu profissionalmente na França. As conquistas empresariais foram na Renault, e ele se tornou um dos arquitetos da aliança Nissan, criada há mais de uma década.
A fuga do país também foi uma surpresa para os advogados, como reconheceu Junichiro Hironaka, o principal nome da equipe de defesa, em declarações aos jornalistas.
“Estou ansioso para que a inocência seja alcançada, mas parece que ele não concordou com a justiça no Japão. Ele deixou tudo aqui, as coisas estão no quarto dele. Se ele voltar, vamos trabalhar juntos”, comentou Hironaka.
Pelo menos um dos casos enfrentados por Ghosn em Tóquio implica uma pena máxima de 10 anos de prisão, à qual se juntariam três outras acusações, entre elas o suposto recebimento de dinheiro não declarado e o uso de fundos da Nissan para benefício próprio.
Até o momento, ao violar as condições da liberdade sob fiança, Ghons perde a quantia que tinha depositado para sair da prisão, cerca de 1,5 bilhão de ienes (o equivalente a R$ 55 milhões)
Em sua primeira declaração, Ghosn não explicou porque decidiu viajar para Beirute. A mídia local tem indicado que o Japão não tem um acordo de extradição com o Líbano.
O brasileiro criticou duramente o sistema jurídico do Japão, de forma mais dura que os comentários anteriores, possivelmente porque não tem a intenção de comparecer diante de um juiz japonês.
“Não sou mais refém do sistema jurídico tendencioso do Japão, onde prevalece a presunção de culpa, onde a discriminação é generalizada e onde os direitos humanos são violados, em total desrespeito às leis e aos tratados internacionais que o Japão ratificou. Não fugi da Justiça, me libertei da injustiça e da perseguição política”, diz o texto divulgado através dos porta-vozes.
Ghosn se diz inocente
Ghosn sempre negou os fatos dos quais é acusado e garantiu que é vítima de uma “trama” interna da Nissan para evitar uma maior integração com a Renault e, eventualmente, uma fusão entre duas outras empresas e uma irmã mais nova, a Mitsubishi.
O empresário não apareceu publicamente desde a chegada a Beirute para dar detalhes, mas se posicionar nos próximos dias.
“Posso finalmente me comunicar livremente com a mídia, o que farei na próxima semana”, anunciou.
*Com Agência EFE
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