‘China quer se associar ao Talibã por estratégia’, diz deputado sobre crise no Afeganistão
Em entrevista ao Morning Show, Heni Ozi Cukier afirmou que o país do Oriente Médio é uma região economicamente importante para os chineses
Nesta terça-feira, 17, o programa Morning Show, da Jovem Pan, recebeu o deputado estadual Heni Ozi Cukier (Novo-SP), que também é cientista político. Ele, que já trabalhou no Conselho de Segurança da ONU, afirmou que o apoio da China ao Talibã faz parte de uma geopolítica estratégica para que o país garanta estabilidade na província de Xinjiang, região de conflitos entre o governo chinês e o grupo étnico muçulmano uigur. “A China quer se associar ao Talibã de alguma forma, desde que o Talibã não dê abrigo para os muçulmanos da província chinesa. É um movimento político estratégico, a região é importante para a China, a nova rota da seda passa pela Ásia Central e o Afeganistão tem um papel importante ali.”
Ozi Cukier também falou sobre o papel da ONU, que tem sido cobrada por políticos e civis, na crise política do Afeganistão. Segundo ele, a organização pode mediar os conflitos, mas não possui recursos bélicos próprios para intervir. “A ONU é uma organização intergovernamental. Ela faz o que os países querem. Os países todos precisam sentar juntos e dizer que precisam fazer algo pelo Afeganistão. Os Estados Unidos ficaram 20 anos lá tentando consertar o país, não conseguiram, decidiram sair e ninguém mais quer ficar lá. Vários impérios tentaram dominar o Afeganistão e não conseguiram, a ONU é muito menos relevante, pois não tem os recursos, não tem o exército, não tem meios. Ela pode mediar, mas não tem negociação com o Talibã.”
Sobre a saída dos Estados Unidos do Afeganistão após 20 anos de guerra, o cientista político disse que se trata de um desejo que já era negociado por governos anteriores, porém, para ele, Joe Biden errou em não ter coordenado a saída com aliados internos. “Para onde os Estados Unidos iriam ficando ali? Reconstruir um país é uma das missões mais difíceis que existem. Todos os últimos 3 presidentes negociaram essa saída. Como foi feito, é uma discussão diferente. Alguns pontos foram errados, como o Biden não ter coordenado com outros aliados, ele só decidiu sair e pronto. Tem um dilema que não é simples: não podia sair imediatamente, porque isso dá um sinal claro: ‘estamos abandonando o país’. E aí o Talibã se sente mais seguro. Foi deixando até o último minuto, mas ninguém esperava que as forças de segurança seriam derrotadas tão facilmente. Eles desertaram, não queriam lutar, não tinham motivação para lutar. Os Estados Unidos vão ter de proteger aqueles que precisam sair de lá de dentro. Tem tradutor, político e um monte de gente que ajudou os americanos nesses vinte anos.”
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