Debate dos EUA tem tom agressivo, acusação de fraude e menção ao Brasil

Donald Trump e Joe Biden trocaram farpas durante toda a 1h30 de discussão

  • Por Jovem Pan
  • 30/09/2020 00h54 - Atualizado em 30/09/2020 01h01
EFE/EPA/OLIVIER Joe Biden e Donald Trump fizeram um debate acalorado na noite desta terça-feira

O primeiro debate entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, do partido Republicano, e Joe Biden, do Democrata, começou quente em Cleveland. O moderador Cris Wallace, da Fox News, chegou a dar bronca no atual presidente e sugerir uma “troca de cadeiras”, dada a quantidade de vezes que Trump não permitiu que desse andamento às perguntas. Nos minutos concedidos a Biden, Trump interrompia todas as falas de seu opositor, e tocou em questões pessoais da vida do ex-vice-presidente, como o suposto envolvimento do filho com drogas. Biden, por sua vez, classificou a gestão de Trump contra a covid-19 como “catastrófica”, e o classificou como “pior presidente dos Estados Unidos”.

Nos primeiros minutos, já era nítido que os ânimos estavam exaltados. Perguntado sobre a indicação de Amy Coney Barret para a vaga de Ruth Bader Ginsburg na Suprema Corte, Trump se limitou a dizer que a considera uma indicação “fenomenal”, e que a decisão era de seu governo, já que venceu a eleição. O tom do presidente tirou a concentração do Democrata. O clima voltou a esquentar quando o assunto foi o Obama Care. Biden sugeriu que Trump, que prometeu acabar com o programa de saúde desde sua campanha em 2016, não apresentou um plano para substituí-lo. Trump, por sua vez, enumerou que reduziu preços de remédios em prol da saúde pública. “Estamos combatendo a grande indústria farmacêutica. Você poderia ter feito isso nos seus 47 anos de governo”, além de considerar o programa “um desastre”.

“Ele não tem planos para a saúde. Não abaixou os custos dos remédios, prometeu os planos para a saúde desde que foi eleito, mas não tem um plano. Esse homem não sabe do que está falando”, rebateu Biden. Trump também acusou Biden de se distanciar da ala de esquerda para não “perder as eleições”.

Brasil e questões ambientais

A preservação ambiental, uma das principais bandeiras da campanha de Biden, fez com que o Brasil fosse nominalmente citado na fala do democrata. “Vamos construir uma nova economia [com energias renováveis], investir em motores que emitam menos [CO2]. Há tantas coisas para fazer. A primeira é voltar ao Acordo de Paris. Isso está se desmantelando”, disse. “No Brasil, as florestas estão sendo destruídas, e mais carbono é absorvido lá do que nos Estados Unidos”. Biden afirmou que vai se unir a outros países para criar um pacote de 20 bilhões de dólares para evitar o desmatamento na Amazônia, além de sugerir “consequências econômicas” caso o Brasil não cumpra metas de preservação.

Com Trump, os Estados Unidos saíram do Acordo de Paris. “Era um desastre”, disse. “Temos a menor emissão de carbono, estamos indo muito bem”, afirmou. “A China polui, a Rússia e a Índia também, e nós temos que ser os bonzinhos?”, questionou.

Covid-19

Os Estados Unidos é o país com mais mortes e casos de covid-19 em todo mundo, mas segundo Trump, que garantiu a vacina para “daqui a algumas semanas”, o trabalho que seu governo tem feito é “fenomenal”. “Se nós tivéssemos ouvido você o país estaria aberto. Você não sabe quantas pessoas morreram na China, na Rússia, na Índia. Me chamou de xenófobo, racista, disse que não deveríamos fechar o país. Eu fiz isso, e disseram que Trump salvou vidas, fizemos um trabalho fenomenal. Poucas pessoas estão morrendo”, disse o presidente, que ainda afirmou que a “imprensa negativa” atrapalha a gestão da pandemia.

Biden insistiu que Trump “não tem um plano” contra o vírus, e relembrou que no início da pandemia, o presidente não acreditou na gravidade da infecção, e que se assustou. “Esperou, esperou, e não tem um plano. Deveríamos estar garantindo equipamentos de segurança, aprovando dinheiro na Câmara para garantir a ajuda que as pessoas precisavam, pequenos empresários. Sair do campo de golfe. Ir ao Congresso e salvar vidas”. O candidato do Partido Democrata também levantou a questão do uso de máscaras, lembrando de declarações contrárias ao equipamento dadas pelo presidente. “Você tem sido totalmente irresponsável na questão do isolamento e do uso de máscaras”, disse.

Impostos e crise econômica

Assunto mais que esperado após a revelação do New York Times, que tornou público documentos que supostamente comprovariam que o presidente teria pago apenas 750 dólares em impostos federais no ano em que foi eleito, foi pouco explorado por Joe Biden. Trump se limitou a dizer que pagou “milhares de dólares em impostos”, e que um relatório irá comprovar o que foi dito.

O presidente insistiu que os Estados Unidos viviam seu melhor momento antes da pandemia da covid-19, fato contestado pelo opositor. “Construímos a melhor economia do mundo. Fechamos e estamos reabrindo”, disse. Em um outro momento, ele reafirmou que “nunca houve um presidente que fez mais do que eu fiz nos três primeiros anos. Apesar de lutar contra todos os lados, um pedido de impeachment. Antes da covid-19, tivemos a melhor economia da história, os melhores números da história, e então fomos atingidos”.

Questões raciais

Nervoso, o presidente Trump não conseguiu responder ao questionamento de Cris Wallace sobre os supremacistas brancos nos Estados Unidos. Enquanto o tópico era abordado, Joe Biden chegou a chamá-lo de racista. Em sua fala, o candidato democrata lembrou do episódio em que uma mulher foi morta em um protesto contra o racismo. “Vamos nos lembrar de gente levando tochas, gente da Klu Klux Klan, uma mulher morta, e ele [Trump] disse que havia gente de bem ali. Nenhum presidente fez isso”, disse. O protesto na Casa Branca após a morte de George Floyd, que terminou em policiais jogando gases de pimenta e bombas de efeito moram nos manifestantes enquanto o presidente passava em direção a uma igreja também foi mencionado. “Esse é o homem que fala em ajudar os afro-americanos. Ele não fez nada. Tudo que fez tem sido desastroso”.

Trump explicou porque foi contra um programa de sensibilização racial no país. “Muitas pessoas estavam reclamando de pedirem para fazer coisas insanas, que era uma revolução radical. Centenas de milhares de dólares eram repassados para que ensinassem ideias ruins. Para que ensinassem a odiarem nosso país, dizendo que os Estados Unidos são um país racista”. Já Biden ressaltou a necessidade da sensibilização. “As pessoas precisam saber o que é o insulto”, afirmou. “[influencia] no jeito que uma criança cresce, se for minimizada por ter nascido em lugares pobres, ter cor ou fé diferentes. São todos americanos”, disse.

Supostas fraudes nas eleições

Nem a menção de Trump ao suposto envolvimento do filho de Biden, Hunter Biden, com drogas, deixou o candidato tão contrariado como no momento em que o presidente questionou os votos pelos Correios no país. Ele já havia sugerido certa desconfiança com os resultados da votação de novembro em outras oportunidades, e até indicou que “não aceitaria” o resultado, mas a declaração em rede nacional nesta terça-feira mostrou que essa discussão ainda pode render novos capítulos. “Eles estão mandando milhões de votos que não foram pedidos”, protestou. Nos Estados Unidos, o eleitor pode solicitar a cédula de votação pelos correios, neste ano, porém, por causa da covid-19, alguns estados estão enviando para todas as residências. “Acharam em uma lata de lixo vários votos com o nome Trump. Uma fraude jamais vista. Vamos ficar sem saber por meses, alguns votos estarão por aí. É uma fraude, uma vergonha”.

Pouco antes, Biden havia dito que a direção do FBI já confirmou que não há indícios de qualquer manipulação nas eleições. “O que ele faz é tentar dissuadir as pessoas de votarem, dizendo que não será legitimo. Vote do jeito que for melhor, mas vote. A contagem dos votos, isso será aceito. Se ganhar ou perder vou aceitar. E ele diz que não tem certeza se vai aceitar. O poder está nas suas mãos de mudar ou de continuar com as mentiras”, disse, convocando o eleitor a ir às urnas.

O próximo encontro entre os presidenciáveis acontece em 15 de outubro, em Miami, na Flórida. Em 22 de outubro, eles vão a Nashville, no Tenessee. Os candidatos a vice, Mike Pence e Kamala Harris, debatem no dia 7 de outubro, em Salt Lake City, Utah.

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