Entre ruínas, palestinos começam a voltar para casa após acordo de cessar-fogo
Trégua põe fim a dois anos de guerra na Faixa de Gaza e prevê libertação de reféns em até 72 horas; Ministério da Saúde administrado pelo Hamas estima que mais de 67 mil pessoas morreram no território
Israel anunciou nesta sexta-feira (10) a entrada em vigor de um cessar-fogo na Faixa de Gaza, após firmar um acordo com o Hamas. Com o fim dos combates, dezenas de milhares de palestinos começaram a retornar para suas casas, muitas delas em ruínas. O acordo, mediado por Egito e Estados Unidos, prevê a libertação de todos os reféns mantidos na Faixa de Gaza em até 72 horas. A trégua foi confirmada pelo Exército israelense às 9h (horário GMT), o que corresponde às 6h em Brasília. Desde então, milhares de deslocados iniciaram o retorno do sul ao norte do território.
Em Khan Yunis, no sul, muitos encontraram seus lares totalmente destruídos. Nas últimas semanas, Israel havia intensificado sua ofensiva terrestre e aérea para retomar o controle de Gaza, principal centro urbano do território palestino. Após o início do cessar-fogo, a Defesa Civil local informou que começou a remover corpos dos escombros. “Desde a entrada em vigor da trégua, foram encontrados 63 corpos nas ruas de Gaza”, disse Mahmoud Basal, porta-voz do órgão ligado ao governo do Hamas.
O Exército israelense afirmou que suas tropas estão se reposicionando ao longo das “linhas de retirada” em preparação para o cumprimento do acordo, mas alertou que algumas áreas continuam “extremamente perigosas”. O enviado especial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Steve Witkoff, confirmou no X (antigo Twitter) que Israel concluiu a “primeira fase da retirada para a linha amarela” e que o prazo de 72 horas para a libertação dos reféns começou a contar.
O pacto, fechado por meio de negociações indiretas no Egito, baseia-se em um plano de 20 pontos apresentado por Trump no mês passado. O objetivo é encerrar dois anos de guerra, iniciados após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixou 1.219 mortos em território israelense, a maioria civis, segundo balanço da AFP com base em dados oficiais.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que dos 48 reféns ainda em poder do Hamas, 20 estão vivos e 28 morreram. A família de Alon Ohel, um dos sequestrados, declarou estar “tomada pela emoção” e ansiosa por seu retorno. Pelo acordo, Israel também deverá libertar 250 presos por razões de segurança e outros 1.700 palestinos detidos desde outubro de 2023. A lista divulgada por Israel não inclui lideranças conhecidas da luta armada palestina.
Apesar das comemorações em ambos os lados, o cessar-fogo ainda deixa questões pendentes, como o desarmamento do Hamas e a criação de uma autoridade de transição para governar Gaza — proposta que integra o plano americano e é rejeitada pelo grupo islâmico. O Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, estima que mais de 67 mil pessoas morreram no território desde o início da ofensiva israelense. A ONU alerta para a situação de fome em partes da Faixa, acusação negada por Israel.
A Defesa Civil palestina informou que cerca de 200 mil pessoas retornaram nesta sexta-feira ao norte de Gaza. “Este retorno está cheio de feridas e dor”, disse o deslocado Ameer Abu Iyadeh, de 32 anos, em Khan Yunis. Arij Abu Saadaeh, de 53, afirmou estar “feliz pela trégua”, mas lamentou ter perdido dois filhos na guerra. “Só rezo para que minha casa ainda esteja de pé. Esperamos apenas que a guerra acabe de uma vez por todas”, declarou Mohamed Mortaja, de 39 anos, a caminho de Gaza. A Associação de Imprensa Estrangeira em Jerusalém pediu nesta sexta-feira que Israel permita o acesso independente de jornalistas à Faixa de Gaza, bloqueado desde o início do conflito.
*Com informações da AFP
Publicado por Felipe Cerqueira


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