Especialistas discutem situação da Venezuela: ‘Um país largado a sua própria sorte’
Os professores Maristela Basso e Jorge Paschoal discutiram a situação da Venezuela no Pânico desta quarta-feira (6). Eles concordaram que o país vive sob uma ditadura de Nicolás Maduro, explicaram como as coisas chegaram a essa situação e projetaram o futuro da nação, que agora tem o presidente interino Juan Guaidó reconhecido por vários países, entre eles o Brasil.
“O país foi saqueado, entregue aos militares, ao narcotráfico”, disse Basso sobre os governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. “A Venezuela é um país largado a sua própria sorte, sem nenhum meio de produção de riquezas”, lamentou.
Jorge Paschoal lembrou da situação alarmante que a população vive. “É uma ditadura muito grave”, disse, afirmando que há cerca de 1 mil casos de tortura e 10 mil mortes em quatro anos no país. “O que está acontecendo na Venezuela é um absurdo, coisa de outro mundo.”
Basso explicou que uma série de fatores levaram a Venezuela à dramática situação atual. “Quanto mais jovem a democracia, mais frágil ela é. Esse cenário é propício para esses líderes que veem cheios de fórmulas”, afirmou. “Chávez veio com a conversa de que ia limpar a Venezuela das elites. A Venezuela era Paris do continente americano”, continuou a professora, lembrando que o país tinha uma elite muito rica e boa parte da população vivendo na pobreza.
Para Paschoal, a Venezuela foi vítima de algo que assola toda a América Latina. “O problema da América Latina é que a gente quer eleger herói”, disse, lembrando de quando Lula foi eleito presidente do Brasil pela primeira vez, em 2002. “Colocamos nosso destino na mão do outro”, explicou.
Futuro
Nas últimas semanas, o presidente da Assembleia venezuelana, Juan Guaidó, se declarou presidente interino do país e foi apoiado por várias nações, incluindo Brasil e Estados Unidos. Maristela Basso, no entanto, aponta que o governo dele é ilegítimo. “O governo do Guaidó é ilegítimo porque quem comanda o Estado e o território é o Maduro”, explicou. “Declarando o governo provisório, ele gera uma divisão que não havia antes. Isso é pior para a Venezuela”, afirmou a professora.
Enquanto isso, o mundo acompanha de perto a situação no país, com os velhos rivais Estados Unidos e Rússia em lados opostos. Caso haja uma intervenção militar na Venezuela, aconteceria unilateralmente pelos Estados Unidos, uma vez que, para a ONU aceitar a decisão, os cinco membros do Conselho de Segurança teriam que votar a favor, coisa que Rússia e China, que têm assentos no Conselho, não devem fazer.
Para a professora Maristela Basso, essa situação volta a reaquecer a Guerra Fria. “É uma guerra que vai de novo acirrar os intervencionistas e os que não querem intervir”, explicou. Ela não descarta que o imbróglio na Venezuela escale para algo maior globalmente. “Isso pode gerar um conflito, por que não?”.
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