EUA admitem morte de centenas de crianças indígenas em internatos do governo

Relatório organizado pela secretária do Interior, Deb Haaland, busca reparar os danos causados aos povos originários e ‘curá-los’ de alguma forma

  • Por Jovem Pan
  • 12/05/2022 00h35
Luciano Garcia Casa Branca Governo norte-americano reconheceu, pela primeira vez, as mortes das crianças indígenas

Os Estados Unidos revelaram nesta quarta-feira, 11, os resultados de uma investigação que constatou a morte de centenas de crianças indígenas em internatos administrados pelo governo do país entre os séculos 19 e 20, e teme-se que possa haver muitas mais. Deb Haaland, secretária do Interior do governo de Joe Biden e primeira mulher indígena a fazer parte do gabinete americano, divulgou os primeiros resultados da investigação iniciada por seu departamento sobre esses internatos, que funcionaram no país entre 1819 e 1969. De acordo com as primeiras conclusões, centenas de crianças morreram nesses internatos de “assimilação” espalhados por 37 estados dos EUA – chegou a haver mais de 408 escolas federais -, embora possa haver muitos mais, em vista das primeiras investigações. O relatório detalha que muitos dos falecidos foram enterrados em locais não marcados, longe dos assentamentos de suas tribos. Até agora, 53 cemitérios foram localizados, mas espera-se que muitos mais sejam encontrados.

O documento afirma ainda que, em muitas ocasiões, os internos – na sua maioria crianças – foram submetidos a trabalhos forçados e educados em estilo militar ou que foram proibidos, sob ameaça de castigos severos, de falar sua própria língua ou praticar sua religião. “Venho de ancestrais que sobreviveram aos horrores das políticas de assimilação realizadas pelo próprio departamento que lidero. Agora, podemos ajudar no esforço de trazer de volta a história sombria dessas instituições que perseguiram nossas famílias por tanto tempo”, disse Haaland. A secretária acrescentou que as consequências desse sistema e o “trauma intergeracional” que causou são “inegáveis ​​e de partir o coração”. Haaland prometeu que seu departamento continuará coletando evidências dessa assimilação forçada e garantiu que seu objetivo não é apenas dar voz aos sobreviventes desse sistema, mas também tomar medidas para que o legado indígena possa “crescer e curar-se”.

O subsecretário responsável por Assuntos Indígenas, Bryan Newland, destacou que o relatório abre a oportunidade de reorientar as políticas federais para revitalizar as práticas culturais e linguísticas que o governo americano tentou destruir por dois séculos. Com ele, os Estados Unidos deram um primeiro passo em uma questão que está no centro da vida política no Canadá há mais de um ano. Nos internatos de assimilação do país vizinho, que funcionaram até 1997, foram encontradas até hoje 1.275 sepulturas não identificadas.

*Com informações da EFE

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