França, EUA e Portugal: os grandes escândalos de pedofilia na Igreja Católica
Mais de 350 mil pessoas, sendo a maioria menores de idades, foram vítimas de membros do clero; investigações seguem acontecendo em vários países
Nos últimos anos tem sido recorrente as investigações e divulgações de agressões sexuais contra menores realizadas na Igreja Católica. Ao todo, já são mais de 350 mil casos que vieram a público. A mais recente revelação foi o relatório apresentado nesta segunda-feira, 13, por uma comissão independente, que apontou que o clero católito de Portugal abusou de pelo menos 4.815 menores desde 1950, de acordo com uma comissão de investigação. A investigação foi solicitada em 2021 pela Igreja de Portugal, um país de arraigada tradição católica. Em outubro, uma equipe de seis especialistas, liderada pelo psiquiatra infantil Pedro Strecht, anunciou que havia registrado 424 testemunhos legítimos de supostas vítimas, mas advertiu que o número total era “muito maior”. Os fatos denunciados revelam “situações graves que persistiram durante décadas, que se tornam mais evidentes à medida que se recua no tempo e que, em alguns locais, adquiriram proporções verdadeiramente endêmicas”, concluiu a equipe em outubro, em um relatório preliminar. A maioria dos casos denunciados já prescreveu, mas 25 depoimentos foram encaminhados ao Ministério Público, que abriu investigações. O crime, entretanto, não é exclusivo de Portugal, escândalos já foram registrados em países como Estados Unidos, Chile e Austrália.
França
Uma comissão independente apresentou em outubro de 2021 uma investigação sobre a violência sexual dentro da igreja católica francesa e calculou que 330 mil menores foram vítimas de padres, religiosos e pessoas próximas a instituições católicas desde 1950. Esses números são estimativas. Em novembro, a Justiça abriu uma investigação contra o cardeal Jean-Pierre Ricard, que reconheceu ter tido um comportamento “repreensível” com uma menor de idade há 35 anos. A Igreja Católica francesa é alvo de nova investigação sobre agressão sexual, após a justiça decidir investigar uma sinalização da diocese de Paris sobre seu ex-arcebispo Michel Aupetit, informou o Ministério Público. A Justiça francesa abriu, em dezembro, uma investigação por agressão sexual de vulnerável, segundo o Ministério Público de Paris, confirmando uma informação do canal de televisão BFMTV.
Estados Unidos
Entre 1950 e 2018, a Igreja Católica nos Estados Unidos recebeu denúncias de mais de 20 mil menores que afirmaram ter sido vítimas de abuso por parte de cerca de 7.000 membros do clero, segundo o site bispo-accountability.org, que compila casos. Em 2002, o jornal Boston Globe revelou que a hierarquia católica de Boston, incluindo o arcebispo Bernard Law, encobriu agressões sexuais cometidas por quase 90 padres ao longo de décadas.
Alemanha
Uma pesquisa de 2017 descobriu que pelo menos 547 menores de um coro católico de Regensburg foram abusados entre 1945 e o início dos anos 1990. Em 2018, um estudo de acadêmicos concluiu que 3.677 menores foram vítimas de violência sexual na Alemanha entre 1946 e 2014. O papa Bento XVI, que morreu em dezembro do ano passado, foi questionado quando já era emérito em 2022 por sua gestão da pedofilia na Alemanha quando era arcebispo de Munique. Segundo um relatório desta diocese, entre 1945 e 2019 pelo menos 497 pessoas, a maioria crianças e adolescentes, foram vítimas de agressões sexuais.
Austrália
Após uma série de escândalos, uma comissão do governo investigou, entre 2013 e 2017, a igreja católica e outras instituições que abrigam menores. O relatório concluiu que 7% dos religiosos católicos receberam denúncias de agressões sexuais contra menores entre 1950 e 2010, sem que isso implique uma investigação dos fatos.
Chile
Mais de 200 membros da Igreja chilena foram investigados por 150 casos de agressões sexuais. Mais de 240 vítimas foram identificadas, 123 delas menores de idade. O escândalo mais divulgado foi o que envolveu o padre Fernando Karadima por seus ataques contra menores entre as décadas de 1980 e 1990 em uma rica paróquia da capital Santiago. Em uma polêmica visita ao Chile em 2018, o papa Francisco foi acusado de não agir, apoiando um bispo acusado de encobrir crimes atribuídos a Karadima. O pontífice fez um mea culpa e em Roma aceitou a renúncia de sete bispos chilenos.
Irlanda
Na Irlanda, as primeiras alegações surgiram na década de 1980. A partir de 2008, a Igreja iniciou uma série de investigações internas sobre alegações de agressões sexuais cometidas desde 1975 por pelo menos 85 padres.
Polônia
Desde 2018, a Igreja Católica na Polônia recebeu centenas de denúncias sobre agressões sexuais contra menores atribuídas ao clero. Em 2019, o papa Francisco expulsou o cardeal Theodore McCarrick da igreja por acusações de que ele abusou sexualmente de adolescentes na década de 1970.
*Com informações da AFP
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