Governo francês promete resistir à “dura” greve no sistema ferroviário
O governo da França insistiu nesta terça-feira em sua disposição para negociar, mas garantiu que resistirá à greve que começou hoje no sistema ferroviário do país, com adesão “maciça” dos trabalhadores segundo os sindicatos, que anunciaram um protesto “duro” pela posição do Executivo de Emmanuel Macron.
A ministra dos Transportes da França, Elisabeth Borne, denunciou, mas sem citar nomes, que “alguns querem politizar o debate” com afirmações falsas como a de que a reforma da empresa estatal de ferrovias (SNCF, na sigla em francês) levará à sua privatização.
“A SNCF é uma empresa pública e seguirá sendo uma empresa pública”, ressaltou em entrevista ao canal de televisão “BFMTV” a ministra, que reconheceu que o trânsito de trens estava bastante comprometido neste primeiro dos 36 dias de greve, que serão dispostos de forma espaçada de hoje até o fim de junho.
A ministra afirmou que faz um mês que abriu uma negociação com os sindicatos, que deve se prolongar por mais um, e que na semana passada fez concessões ao atrasar a abertura à concorrência nas linhas regionais e de proximidades, ao mesmo tempo em que se queixou que “os sindicatos não têm se mexido”.
A responsável de Transportes lembrou que sua intenção é aumentar em 50% os investimentos na renovação da infraestrutura ferroviária, mas também que a reforma é necessária porque a dívida da SNCF, de quase 50 bilhões de euros, “ameaça o sistema ferroviário”.
A ministra reiterou que essa dívida aumenta a cada ano em 3 bilhões de euros e que a empresa tem que pagar 1,5 bilhão para financiá-la a cada ano.
A respeito do ponto que suscita mais protestos por parte dos funcionários da SNCF, a supressão para os futuros contratados do estatuto laboral da companhia, que contém vantagens sobre o regime geral dos trabalhadores na França, Borne o justificou por “uma questão de igualdade” e de competitividade.
Sobre essa última questão, a ministra afirmou que as empresas que no futuro concorram com a SNCF não terão que aplicar esse estatuto a seus assalariados e isso lhes daria uma vantagem.
O secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT, a principal central da SNCF), Philippe Martínez, afirmou por sua vez que os grevistas não estão parados “por gosto”, mas porque o Executivo “não quer ouvi-los”.
Ao ser perguntado em uma entrevista à emissora “France Inter” sobre se sua vontade é organizar uma greve dura, Martínez respondeu que os trabalhadores foram “obrigados” a chegar a esse ponto “por culpa do governo”.
Após destacar que a mobilização de hoje é “maciça”, Martínez reivindicou uma revisão da reforma apresentada em 26 de fevereiro por Borne e pelo primeiro-ministro, Édouard Philippe, que anunciaram a vontade de aprová-la por decreto.
O líder da CGT duvidou das intenções do Executivo ao transformar a SNCF em uma sociedade de ações: “Que garantia temos de que não haverá privatização?”, questionou o sindicalista.
Segundo os dados da própria direção da companhia, 48% de seus funcionários se declararam em greve hoje, um percentual que chega a 77% dos motoristas, o que obrigou a anular sete de cada oito viagens nos trens de alta velocidade (TGV) e quatro de cada cinco regionais e de proximidades.
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