Guerra na Ucrânia: por que Donbass é importante para as estratégias de Putin?

Região controlada por separatistas pró-Rússia desde 2014 é o mais novo foco da guerra com a Ucrânia; Kremlin tem como objetivo resgatar e proteger a população até 9 de maio, aniversário da derrota dos nazistas pelo exército soviético em 1945

  • Por Sarah Américo
  • 16/04/2022 07h00
REUTERS/Alexander Ermochenko importância de Donbass Soldados pró-Rússia carregam munição em veículo blindado durante confronto

Após o fracasso da primeira ofensiva lançada no dia 24 de fevereiro, as forças russas reduziram o cerco em Kiev e Chernihiv e passaram a ter como foco principal a região de Donbass, que conta com as Repúblicas separatistas de Donetsk e Luhansk – reconhecidas como independentes por Vladimir Putin em 21 de fevereiro e controladas por líderes pró-Rússia desde 2014. O local é um ponto estratégico para os objetivos do líder russo pois permite que ele tenha controle do leste do país. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não abre mão de seu território e já disse que não vai reconhecer a independência da região. Nesta segunda-feira, 11, o porta-voz do ministério da Defesa ucraniano, Oleksandre Motuzianik, alertou que os russos estavam terminando de preparar sua ofensiva no leste e que “o ataque acontecerá muito em breve”. As negociações envolvendo Donbass são um dos pontos mais complicados nas negociações de paz entre os dois países. Mas o que faz com que Donbass seja tão importante para Putin? 

Segundo especialistas, são dois pontos cruciais: cultura e economia. O professor de Relações Internacionais da ESPM Roberto Uebel explica que “Donbass faz parte de uma zona de tampão” entre a Rússia e a Ucrânia. “Vejo como uma das principais disputas políticas. A Rússia está com posições bem consolidadas nessas regiões”, acrescenta. Kai Enno Lehmann, professor associado do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), fala que a região tem mais influência russa do que a ucraniana. “Uma parte significativa da população tem origem russa e se sente mais próxima da Rússia”, explica. Não é à toa que os líderes das regiões de Donetsk e Luhansk queriam que Putin reconhecesse sua independência. No dia 27 de março, Leonid Pasechnik, líder de Luhansk, afirmou a repórteres que em “um futuro próximo um referendo será realizado no território da república, no qual as pessoas exercerão seu direito constitucional absoluto e vão expressar sua opinião sobre o desejo de ingressar na Federação Russa. Por alguma razão, tenho certeza de que é exatamente isso que vai acontecer”.   

 

Donbass

O cientista político Leandro Consentino fala que mais do que identidade linguística e cultural na região, também há outro ponto importante que faz com que Putin queira controlar a região de Donbass, que é o fato dela ser “totalmente industrializada e intensiva em aço e carvão. Por isso Putin quer se apropriar desse espaço, para deter esse controle sobre uma importante região econômica da Ucrânia”. Após um mês de conflito, a Rússia diz que já controla 93% de Luhansk e 54% de Donetsk, e o Kremlin quer concluir a operação nas regiões até 9 de maio, que marca o aniversário da derrota dos nazistas pelo exército soviético em 1945. Kai Enno fala que, em termos econômicos, é muito importante para o líder russo dominar o espaço. O professor também relembra que o conflito em Donbass já dura oito anos e que a ideia de resgatar e proteger a população russa no leste foi uma das explicações utilizadas por Putin para iniciar a guerra contra a Ucrânia, que já dura mais de um mês, então “em algum momento ele precisa mostrar um tipo de vitória, falar que algo valeu a pena na guerra que ele começou”, diz Kai Enno. Para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o controle da região de Donbass pela Rússia significa a criação de um ponto terrestre que ligaria o país até a Crimeia. Na terça-feira, 13, as tropas russas falaram que tem controle sobre a cidade portuária de Mariupol – território importante para concretizar essa ligação idealizada por Putin –  após os militares ucranianos se renderem. Entretanto, a Ucrânia não confirma a informação e diz que está no controle. 

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