Gustavo Petro anuncia conversas de paz com maior organização narco da Colômbia

Clã do Golfo, maior produtor mundial de cocaína, quer ser reconhecido como grupo político e obter um tratamento judicial diferenciado, semelhante ao concedido a guerrilheiros e paramilitares

  • 09/08/2025 07h54
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Carlos Ortega/EFE Gustavo Petro durante discurso na Quinta de San Pedro Alejandrino, em Santa Marta Desde o início do mandato, Petro tenta negociar o desarmamento de grupos criminosos, mas ainda sem resultados concretos

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou nesta sexta-feira (8) o início de negociações no exterior com o Clã do Golfo, maior grupo de narcotraficantes do país. O grupo, que se autodenomina Exército Gaitanista da Colômbia, reúne cerca de 7.500 integrantes entre combatentes e redes de apoio. É o maior produtor mundial de cocaína e representa um dos principais desafios de segurança para o governo de esquerda de Petro.

“Iniciamos conversas fora da Colômbia com o autodenominado Exército Gaitanista”, afirmou o presidente durante evento em Córdoba, sem detalhar os termos das negociações. O anúncio ocorre em meio à pior onda de violência registrada desde o acordo de paz de 2016, que desarmou as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

O Clã do Golfo busca ser reconhecido como grupo político e obter um tratamento judicial diferenciado, semelhante ao concedido a guerrilheiros e paramilitares, que respondem a um sistema de justiça transicional focado em reparação às vítimas e memória histórica, mais do que em penas de prisão. Especialistas em processos de paz apontam que o grupo não se enquadra nessa categoria por sua ligação contínua com atividades ilícitas e pela ausência de um projeto político, explica Gerson Arias, pesquisador da Fundação Ideias para a Paz (FIP).

No mês passado, o governo enviou ao Congresso uma proposta que oferece benefícios, como redução de penas e proibição de extradição, a grupos criminosos que concordem com o desarmamento. Desde o início do mandato, em 2022, Petro tenta negociar o desarmamento de grupos armados, mas ainda sem resultados concretos. “Estamos tentando retirar as finanças desses grupos que incendeiam a violência em muitas regiões da Colômbia”, declarou o presidente.

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Contexto e desafios

Especialistas afirmam que os grupos armados, financiados pelo narcotráfico e mineração ilegal, se fortaleceram durante o governo Petro. Com a política de paz estagnada e as eleições presidenciais previstas para 2026, Arias avalia que “não há tempo nem espaço político para avançar em um processo de paz” e que os anúncios servem como instrumento de campanha eleitoral.

Em 2023, a Colômbia registrou 253 mil hectares de cultivos ilícitos, segundo dados da ONU. Para conter o narcotráfico, as forças armadas intensificam a ofensiva contra os grupos ilegais. A escalada da ação contra essas organizações está ligada à pressão dos Estados Unidos, parceiro histórico da Colômbia na luta antidrogas.

O anúncio das conversas coincide com a assinatura, pelo presidente americano, de um decreto que classifica cartéis da América Latina como “terroristas globais”. Em setembro, os EUA decidirão se renovam a certificação da Colômbia como aliada na luta contra as drogas. Caso contrário, o país poderá perder apoio financeiro e militar para combater guerrilhas e narcotraficantes.

*Com informações da AFP
Publicado por Felipen Cerqueira

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